O grande mal para o crescimento do País são as paixões e ambições dos líderes públicos à frente dos interesses da nação.
Se a religião cristã oferece o perdão divino dos nossos pecados para seguirmos confiantes na vida, a política não oferece misericórdia. A decisão irresponsável dos políticos e dos agentes públicos tem consequências nefastas para a sociedade, obrigando a próxima geração a pagar pelos males herdados dos governantes passados. Esse é o caso da manobra pérfida do ex-procurador da República, Rodrigo Janot, para incriminar o presidente Michel Temer em 2017.
Incriminação de Temer paralisou o País
Janot usou uma gravação clandestina e adulterada de um diálogo entre o empresário Joesley Batista, do grupo J&F, e o presidente Temer para incriminá-lo de “obstrução da justiça”. A acusação do procurador geral versava em torno de um diálogo que revelara a “prova cabal” de que Temer assentiu, com uma mera citação monossilábica, um suposto pagamento de propina para silenciar o doleiro Lúcio Funaro. O doleiro estava sendo investigado pela Operação Greenfield por assegurar remessas ilegais de empresários e políticos envolvidos em falcatruas.
Temer estava prestes a votar a reforma da previdência na semana seguinte da divulgação da gravação. Mas tornou-se missão impossível avançar com as reformas após o vazamento da gravação. Temer foi condenado pela imprensa e pela opinião pública, concluiu a presidência como o presidente mais impopular do País e ainda sofreu a humilhação de ser enviado à prisão por alguns dias, quando terminou o mandato.
Mas na semana passada, o juiz Marcus Vinicius Reis Bastos, da 12ª Vara Federal Criminal de Brasília, absolveu o ex-presidente da ação criminal numa “sentença luminar”, segundo o Estadão. De acordo com o juiz Reis Bastos, a acusação do ministério público baseava-se numa gravação adulterada, cujas “afirmações monossilábicas, desconexas, captadas em conversa com inúmeras interrupções não se prestam a secundar as ilações contidas na denúncia”. Em bom português, não havia prova ou evidência para acusar o presidente. (Leia a íntegra da sentença).
Decisão irresponsável e devastadora para o Brasil
A consequência para o País do ato insensato do ex-procurador foi devastadora. O vazamento da gravação de Janot acabou com o governo Temer e paralisou o andamento das reformas. A economia, que dava os primeiros sinais positivos de retomada do crescimento, mergulhou novamente na estagnação, perpetuando o desemprego recorde de 13 milhões de brasileiros. Por fim, o Brasil sucumbiu à mais polarizada disputa eleitoral desde a redemocratização, dividindo o país e dificultando a construção do consenso político em torno do andamento das reformas do Estado.
Enquanto Janot goza de sua aposentadoria, o Brasil continua pagando a conta da sua decisão irresponsável. A economia continua estagnada, a desconfiança em relação ao País dificulta a retomada do investimento e perpetua o fardo da alta taxa de desemprego.
Entretanto, quinze meses após o vazamento da gravação de Janot, o Brasil dá os primeiros sinais de que pode estar saindo do atoleiro criado por ele. O Senado deve aprovar a reforma da previdência essa semana e os primeiros sinais de que houve uma retomada do emprego em outubro pode reanimar as esperanças. O problema é que Janot saiu de cena, mas a irresponsabilidade das lutas fratricidas no seio do partido político do presidente, o PSL, com o núcleo familiar de Bolsonaro pode comprometer o andamento das reformas e o esforço para destravar as amarras do crescimento econômico. Não há nada mais devastador na política do que líderes públicos que colocam suas paixões e ambições à frente do interesse da nação. Esse é o grande mal que vem sistematicamente minando o crescimento do país e a prosperidade da nação. Como dizia D. Pedro II, o imperador do Brasil, “a falta de zelo, a falta de sentido de dever é o nosso primeiro defeito moral”. A imoralidade é o caminho certo para o subdesenvolvimento e para a instabilidade política.