O que a estratégia do governador de São Paulo João Dória revela sobre o caráter e a habilidade política necessários para quem almeja ocupar a presidência da República.
A Anvisa aprovou as vacinas Coronavac e de Oxford, abrindo o caminho para a vacinação em massa dos brasileiros. O início da vacinação representa o fim da politização da “guerra da vacina” entre o governo Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Dória. O negacionismo de Bolsonaro transformou-se numa estrondosa derrota política.
Dados e fatos mostraram que a Covid não era uma gripezinha, mas uma pandemia global. Revelaram também o descaso do presidente da República em rechaçar a ciência em detrimento do populismo. Quando o uso de máscara, o distanciamento social e a higienização as mãos tornaram-se medidas obrigatórias para evitar a proliferação do contágio da Covid, Bolsonaro fez questão de ignorar o uso de máscara, de cumprimentar pessoas, abraçá-las e ser fotografado no meio da multidão.
Por fim, o governo federal rechaçou a importância da vacina e revelou absoluto despreparo, descaso e incompetência para gerenciar a crise sanitária no Brasil. Não houve sequer empenho em fechar acordos para que o país tivesse acesso às vacinas que se apresentaram as mais eficientes até agora, a da Pfizer e da Moderna.
O resultado está estampado nos números da tragédia: mais de 200 mil brasileiros mortos e 8,5 milhões infectados. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que Bolsonaro pode ser acusado de crime de responsabilidade e ser impedido de continuar governando o País.
Em contrapartida, o governador de São Paulo apostou no desenvolvimento da vacina chinesa com o Instituto Butantã e conseguiu transformar a Coronavac na “vacina do Dória” que vai salvar vidas dos brasileiros. Mas se o governador de São Paulo venceu “a guerra da vacina” contra Bolsonaro, ele perdeu uma ótima oportunidade de construir uma ampla aliança política em torno da sua ambição de se tornar um candidato presidencial competitivo.
Seu jeito egoísta de fazer política, só pensando em si e ignorando dividir os louros com os demais governadores, mostra que Dória é “fominha”. O governador de São Paulo é incapaz de jogar em time. Doria quer que o time jogue para ele, o que só enfatiza o estereótipo da “arrogância de São Paulo”, que não se importa com o resto do País.
A estratégia de Dória seria adequada se pensasse em disputar a reeleição para o governo de São Paulo, mas para quem almeja a presidência da República, alijar partidos e governadores para aparecer sozinho na fotografia da vitória da vacina, é um tiro no pé. Reforça a imagem de um político afoito, individualista e pouco confiável.
Bazar | Curadoria de Conteúdo
+ Ana Carla Abrão | O começo do fim
“Sabemos que a vacina é o único ponto de partida para uma recuperação econômica consistente. É também a partir dela que se pavimentará a trilha de reversão de parte das nossas mazelas sociais tão agravadas pela pandemia. Além disso, será a vacina que nos permitirá, finalmente, retomar uma discussão de curso e rumo para um País à deriva e em breve celebrar o fim dessa pandemia que tanto nos tirou e tanto fez sofrer.” Leia a íntegra no Estadão
+ Pedro Fernando Nery | Vacina pública ou privada?
“O que do modelo exitoso das vacinas pode ser replicado em outros órgãos?
Servidores públicos são mesmo parte inquestionável dos bem-sucedidos esforços de criação de vacinas no Instituto Butantã (Coronavac) Nunca tive problemas para reconhecer méritos em adversários políticos. Doria teve um papel importante na defesa da vacina, em contraponto ao negacionismo. Mas uma sociedade sem memória perde seus pontos de referência. e na Fiocruz (“vacina de Oxford”). Uma história não contada é que boa parte desta empreitada é possibilitada por organizações privadas, como a Fundação Butantã e, em menor grau, a Fiotec (Fundação de apoio à Fiocruz).”
O Estado não deve terceirizar a formulação de políticas públicas, mas também não deve ter fábricas de respiradores. Onde traçar a linha? A discussão não pode ser interditada com os estigmas de “privatização”, “desmonte”, “sucateamento”. A vacina mostra que serviços estatais podem se beneficiar da atuação privada sem comprometer que o resultado final seja público, gratuito, de qualidade e universal.” Leia a íntegra no Estadão.
+ Opinião Estadão | Apesar de tudo, a vacina
“O Brasil deve ser o único país onde o início da vacinação representou uma derrota política para o presidente.
Cabe ao Ministério da Saúde fazer o que lhe compete e organizar um plano nacional de vacinação digno do nome. Urge garantir os estoques de vacinas e insumos acessórios para que todos os brasileiros que devem ser imunizados o sejam o quanto antes. Apenas com a Coronavac não se atingirá a cobertura vacinal apta a garantir a imunidade necessária para frear o espalhamento do vírus. Leia a íntegra no Estadão.
Vacinação no mundo em tempo real
Dados oficiais sobre a vacinação e sobre a pandemia são atualizados diariamente no Our Would in Data. Até o momento, 57 países já iniciaram a vacinação.