Não existe saída confiável para a retomada sólida da atividade econômica que não passe pela imunização em massa. Estudo do impacto das vacinas no PIB mostra que a economia brasileira poderá crescer até 5,5% caso até 70% da população seja vacinada até agosto.
A torcida por uma retomada acelerada da economia no início do ano acaba de ser frustrada. Ficou evidente que a segunda onda da pandemia já afetou a atividade empresarial, enquanto o ritmo da vacinação permanece incerto. Economistas refazem as suas contas e já estimam que o PIB de 2021 deverá avançar menos do que o imaginado. Só existe uma maneira de acelerar a retomada econômica e a criação de empregos: a vacinação em massa, o quanto antes.
De acordo com o IBGE, no final de 2020 14,1 milhões de pessoas estavam desempregadas. O número impressiona e é ruim mesmo. A realidade do mercado de trabalho, contudo, é ainda mais dramática.
Desde 2012, quando tem início a série estatística do IBGE, é a primeira vez que o total de pessoas com alguma atividade de trabalho é inferior ao total de desocupados.
Trata-se de um retrato de um país incapaz de oferecer as oportunidades mínimas para os seus trabalhadores. De um país com perspectivas negativas para o futuro. Outro indicador preocupante é que, mesmo entre os ocupados, 2 a cada 10 trabalham e ganham menos do que poderiam.
Impacto do fim do auxílio
Com o fim do auxílio emergencial haverá ainda mais disputa pelas poucas vagas de trabalho disponíveis, e o desemprego tende a aumentar. Um estudo do economista Daniel Duque estimou que a taxa de desemprego do terceiro trimestre de 2020, que ficou em 14,6%, poderia ter chegado a 15,3% caso não houvesse o auxílio, porque 800 mil pessoas a mais estariam à procura de uma ocupação naquele período.
O início do ano chegou com a expectativa do início de uma retomada da economia mais acentuada. Mas a esperança foi frustrada. Em primeiro lugar, por causa da segunda onda da pandemia, ainda mais intensa do que a primeira em muitas regiões do Brasil. Em segundo lugar, porque o ritmo da vacinação deverá ser mais lento do que se imaginava.
Nesse cenário, parece ser inevitável prorrogar o pagamento do auxílio emergencial, ainda que em doses mais comedidas. O problema, claro, é o custo fiscal. No ano passado, quase 70 milhões de pessoas foram beneficiadas, e as despesas com os pagamentos ficaram em torno de R$ 50 bilhões ao mês. É muito dinheiro.
Muito melhor, portanto, é contar com a vacinação o quanto antes. Melhor e bem mais em conta. A verba destinada à imunização deverá ser de R$ 20 bilhões, ou seja, menos da metade do que o País gastou, ao mês, para pagar os auxílios emergenciais.
Impacto da vacina
A imunização é essencial para a retomada plena da atividade econômica. Apenas com a proteção da vacina os brasileiros sentirão confiança para retomar uma vida normal. Enquanto a recuperação econômica não se materializa, empresários adiam os investimentos e contratações de novos funcionários, postergando o crescimento mais duradouro da economia. É um ciclo vicioso que será rompido apenas quando a maior parte da população tiver adquirido imunidade, naturalmente ou pela vacina.
Em Israel, o país onde a vacinação está mais adiantada, já houve uma queda de 60% na internação de idosos. A campanha já foi ampliada para os mais jovens, e praticamente um terço da população recebeu ao menos a primeira dose.
Uma estimativa do impacto das vacinas no PIB foi feita pelo economista Bráulio Borges, da LCA Consultores. O estudo, publicado pelo site Jota, mostrou que a economia brasileira poderá crescer até 5,5% neste ano, caso até 70% dos brasileiros sejam vacinados até agosto. Seria um crescimento bem acima das estimativas atuais, ao redor de 3,4%. Ainda segundo o economista, se fosse possível imunizar 70% dos brasileiros até junho, o avanço no PIB seria ainda maior, de 7%.
Não existe saída confiável para a retomada sólida da atividade econômica que não passe pela imunização dos brasileiros. Há muito os economistas alertam para essa obviedade. Foi o que disse mais de uma vez, por exemplo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Pena que seus colegas no governo não lhe deram ouvidos.
O governo conseguiu a proeza de fazer pouco caso da vacina da Pfizer, uma das mais eficientes, enquanto fazia ataques pueris aos chineses, os principais fabricantes de vacinas e insumos. Agora, com atraso, o governo procura assegurar o acesso a uma maior quantidade de imunizantes. Houve finalmente uma reaproximação com a China, como demostra a troca e afagos emitidos ontem por Bolsonaro e pelo embaixador chinês no Brasil. Que os esforços prosperem e que boa a diplomacia seja recuperada. A vacina é o melhor remédio para o desemprego.