Bjorn Lomborg, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista Time, defende em seu novo livro que a melhor estratégia para combater o grave problema climático não é o alarmismo, e sim a conversa racional. Seu principal argumento é resultado de uma pesquisa da ONU realizada com 9,7 milhões de pessoas de 140 países: “Agir sobre mudanças climáticas” está em último lugar na lista de preocupações.
Bjorn Lomborg é famoso entre as pessoas que se interessam pelas questões climáticas. Pelas razões erradas, porém. Ele tem a imagem de um “negacionista”, cientista que discorda da imensa maioria de seus colegas a respeito da gravidade e dos motivos do aquecimento acelerado da temperatura média do planeta. Lomborg, porém, não está negando a realidade. Ele concorda com as principais conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, cartilha pela qual rezam 999 em cada 1000 ambientalistas. Diz ele: “A mudança climática é real e sua causa predominante são as emissões de carbono produzidas pela queima de combustíveis fósseis pelos seres humanos.” O que afasta Lomborg da maioria dos colegas é sua recusa em aceitar que espalhar o pânico entre as pessoas seja a maneira mais inteligente e eficiente de combater esse ou qualquer outro grave problema global.
Virtunews teve acesso, com exclusividade no Brasil, a trechos do novo livro de Lomborg – “Falso Alarme – Como o pânico com as mudanças climáticas custa trilhões de dólares, fere os pobres e torna impossível consertar o planeta.” O livro do dinamarquês Lomborg saiu quase ao mesmo tempo do que outro alerta no mesmo sentido dado pelo americano Michael Shellenberger com seu “Apocalipse Nunca — Por que o alarmismo ambiental fere a todos nós.”
Os dois livros ainda não contam com traduções para o português. A diferença essencial entre as duas obras está na biografia de cada autor. Shellenberger é um ex-ativista radical que se convenceu da inutilidade das ações extremistas em favor da causa climática. Lomborg é cientista, originalmente do ramo da estatística, com grandes serviços prestados aos estudos de políticas públicas ligadas ao meio-ambiente. Lomborg é uma das 100 pessoas mais influentes do mundo segundo a revista TIME e uma das 75 pessoas mais influentes do século XXI, de acordo com a Esquire.
Falso alarme
A mensagem central de “Falso Alarme” é simples e poderosa: se algum dia o extremismo e o alarmismo foram necessários no despertar das consciências para o grave problema climático, esse tempo passou. Agora é essencial deixar de tentar amedrontar as pessoas e passar a conversar com elas racionalmente. Um dos melhores argumentos de Lomborg para defender essa mudança de abordagem sobre a questão climática vem de uma pesquisa de abrangência mundial feita pela ONU. Os pesquisadores pediram a 9,7 milhões de pessoas de mais de 140 países para listar suas políticas públicas prioritárias para o planeta. O resultado da pesquisa, que traz a Educação em um folgado primeiro lugar, mostra que “Agir sobre mudanças climáticas” em último lugar na lista de preocupações das pessoas.
Lomborg atribui essa péssima colocação da questão climática no rol de preocupações das pessoas não à falta de consciência quanto a gravidade do problema mais ao pânico trazido pela pregação dos extremistas ambientais, o que, por sua vez, leva à paralisia, ao sentimento de que não há nada fazer, pois o fim do mundo está próximo. Bem, o fim do mundo não está próximo. No pior cenário de subida de aquecimento médio e de aumento do nível dos oceanos, seriam necessários mais de cem anos para que o problema afetasse de modo sensível o bem-estar de milhões de habitantes das regiões litorâneas do planeta.
Diz Lomborg: “A retórica dos radicais fez com que metade das pessoas do planeta acreditem que a mudança climática vai levar à extinção da humanidade. Isso é um absurdo. A mudança climática não é sequer o maior problema da humanidade. Ela é um problema sim, mas manejável e que só precisa ser encarado com serenidade, racionalidade e inteligência.”
O maior dano trazido pelo extremismo ambiental, segundo Lomborg, é a “obsessão única e exclusiva” com o aquecimento global e o resultante “desperdício de bilhões de dólares em políticas ineficientes que, em breve, vão chegar a trilhões de dólares.” Lomborg acha que o mundo vai empobrecer se continuar gastando fortunas em políticas ambientais bem-intencionadas, mas erradas.
“Não estamos à beira da extinção. Muito pelo contrário. A retórica da destruição iminente esconde um ponto absolutamente essencial: em quase todos os aspectos que podemos medir, a vida na Terra é melhor agora do que em qualquer momento anterior da história.”
“As melhores pesquisas mostram que o custo das mudanças climáticas até o final do século, se não fizermos nada, será inferior a 4% do PIB global.”
“Os dados do próprio IPCC mostram que para a maioria dos setores econômicos, o impacto das mudanças climáticas será pequeno em relação aos impactos de outros fatores, como mudanças na população, idade, renda, tecnologia, preços relativos, estilo de vida, regulamentação, governança e muitos outros aspectos do desenvolvimento socioeconômico.”
“O foco extraordinário no clima também significa que estamos dedicando menos tempo, dinheiro e atenção para lidar com outros problemas. As mudanças climáticas sugam o oxigênio de quase qualquer outra conversa sobre os desafios globais. Para os países pobres, isso significa minimizar questões muito mais importantes de saúde, educação, emprego e nutrição. Essas são as questões que, se tratadas adequadamente, ajudarão a tirar o mundo em desenvolvimento da pobreza e a gerar um futuro muito melhor para todos.”
“Se não dissermos ‘basta’, aos falsos alarmes climáticos, mundo ficará muito pior do que poderia ser. Precisamos evitar o pânico, olhar para a ciência, analisar os dados econômicos e abordar a questão racionalmente.”
“A melhor análise de dados sobre custos e benefícios mostra que devemos reduzir a produção mais não tentar eliminar o dióxido de carbono. A melhor maneira de fazer isso é criar um imposto sobre o carbono, começando bastante baixo, algo em torno de 20 dólares por tonelada de emissão (equivalente a um aumento de 18 centavos por galão de gasolina) e ir subindo lentamente ao longo do século.”
“Se a ideia é ajudar as pessoas a reduzirem o risco de inundações, existem políticas mais efetivas do que reduzir as emissões de dióxido de carbono. Isso inclui o melhor gerenciamento da água, construção de diques mais altos e regulações mais fortes. “
“Se a ideia é ajudar as pessoas no mundo em desenvolvimento a reduzir a fome, é tragicômico se concentrar no corte de dióxido de carbono, quando se pode dar a essas pessoas acesso a melhores variedades de sementes, mais fertilizantes, acesso ao mercado e oportunidades gerais para sair da pobreza. Se insistirmos em invocar o clima a todo momento, estaremos atrapalhando mais do que ajudando.”