Trump não ajudou o Brasil a furar a fila dos procedimentos obrigatórios para se tornar membro da OCDE.
A decisão de Donald Trump de não apoiar o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) retrata que na diplomacia amizade pessoal não se converte em decisão de Estado. Bolsonaro sempre se vangloriou da amizade com Trump e do poder mágico que ela teria para mudar o norte das relações diplomáticas dos dois países que, de fato, estiveram muito distantes durante a desastrosa presidência de Dilma Rousseff.
Bolsonaro acredita tanto que o poder da amizade com Trump poderia inaugurar uma nova era de rápida aproximação diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos que vem cogitando transformar o seu próprio filho, Eduardo Bolsonaro, em embaixador brasileiro em Washington.
Amizade não muda a direção do transatlântico da diplomacia
É difícil imaginar o ar de surpresa e estupefação da família Bolsonaro quando recebeu a notícia de que os Estados Unidos não apoiará o ingresso do Brasil nesse momento na OCDE. Trump está apoiando o ingresso da Argentina e da Romênia. Colocar os dois países na mesma cesta é misturar um time de terceira divisão (Argentina) com um país que fez a lição de casa e está apto a ingressar na primeira divisão. Enquanto a Argentina está à beira da bancarrota econômica e do desastre eleitoral, a Romênia fez as reformas econômicas que ajudou a impulsionar o crescimento econômico – que deve ser de 4,1% em 2019 –e possui a taxa mais baixa de desemprego da história (3,8%).
O exemplo da atitude do governo americano mostra que a amizade de dois presidentes não é suficiente para mudar a direção do transatlântico da diplomacia. Demorou muito tempo, muito trabalho e muito esforço para o trâmite do processo da Argentina e Romênia caminhar por todas as instâncias da OCDE até chegar a esse momento em que estão prestes a ser aceitos como membros no clube.
Bolsonaro achou que a amizade com Trump poderia acelerar o processo e ajudar o país a furar a fila dos lentos procedimentos que são obrigatórios para um país se tornar membro da OCDE. Isso significa que se o Brasil quiser ser aceito na OCDE, terá de mostrar maturidade e compromisso com as reformas do Estado, com a abertura econômica e com a inserção global do país.
O mundo perdeu a paciência com o comportamento errático do Brasil. O país terá de mostrar maturidade na conduta da política externa, compromisso e perseverança com a abertura econômica, segurança jurídica e reforma do Estado para mostrar que nos tornamos um país maduro e confiável. Constância, previsibilidade e confiança. Esses são os três pilares nos quais repousam a credibilidade de um país. Essas virtudes são lapidadas pelas atitudes, escolhas e políticas públicas de uma nação. Será um longo e árduo caminho que transcende o mandato de Bolsonaro.
O Brasil deveria aprender uma lição importante da diplomacia com o episódio frustrado do apoio americano ao Brasil na OCDE. Como dizia Otto von Bismarck, o chanceler alemão do século 19; “na política não há amigos permanentes nem inimigos permanentes. Só há interesses permanentes”.