Rubens Barbosa, embaixador do Brasil em Washington entre 1999 e 2004, escreve sobre a possibilidade de Biden vencer a eleição e sobre o significado dessa vitória na política interna e externa dos EUA.
Artigo de Rubens Barbosa | Ex-embaixador do Brasil em Washington. Presidente do IRICE
O mundo aguarda preocupado o resultado da eleição presidencial nos EUA daqui a uma semana. A reeleição de Donald Trump significará mais do mesmo nacional populismo, exacerbando as divisões internamente e na ordem internacional. A vitória de Joe Biden representará uma profunda mudança na política doméstica americana e um freio de arrumação na desordem internacional.
A eleição determinará igualmente qual partido vai controlar a Câmara de Representantes, que deverá manter-se Democrata, e o Senado, que poderá manter-se Republicano ou passar para os Democratas.
A crise pandêmica e a situação atual da economia deverão ter influência no comportamento dos eleitores, cujas posições estão cada vez mais polarizadas.
Apesar de Biden manter uma margem de 8 a 10 pontos percentuais acima de Trump, não é possível antecipar o vencedor porque nos EUA a eleição presidencial não é majoritária, como no Brasil, mas é decidida em um colégio eleitoral, formado por representantes de todos os Estados, reminiscência da guerra civil. O resultado final vai depender da votação em alguns Estados que nas últimas eleições presidenciais oscilaram entre republicanos e democratas: Arizona, Michigan, Wisconsin, Pensilvânia, Carolina do Norte, Geórgia e Ohio, com pequena vantagem para Biden na maioria deles até aqui.
O elemento de incerteza aumenta ainda mais pelas declarações pouco ortodoxas do presidente norte-americano sobre a possibilidade de fraude na apuração dos votos enviados pelo correio. Caso não haja uma clara maioria no colégio eleitoral, os resultados poderão ser contestados e iniciar-se um processo de judicialização, com a palavra final dada pela Suprema Corte, com maioria conservadora acrescida, pela posse da nova juíza a poucos dias da eleição.