Eleição de Vizcarra é exemplo de como os desdobramentos da Lava Jato no Brasil e na América Latina abalaram a política do continente. As medidas anti-corrupção propostas pelo novo presidente vão contribuir para o fortalecimento da democracia e da retomada da confiança e do investimento privado no Peru.
Os desdobramentos da Lava Jato no Brasil e na América Latina continuam a produzir mudanças sísmicas na política. As eleições para o Congresso do Peru do domingo passado retratam a intolerância popular com a corrupção. Em 2018, o então presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, foi obrigado a renunciar ao poder para escapar do processo de impeachment por causa de um suposto recebimento de propina da construtora Odebrecht. O vice-presidente Martin Vizcarra foi empossado na presidência da República para concluir o mandato de Kuczynski, que termina em 2021.
Agenda contra corrupção
Vizcarra seguiu a agenda Sergio Moro. Estava determinado a usar o seu mandato presidencial para extirpar as práticas de corrupção da política peruana. Não perdeu tempo ao enviar ao Congresso projetos de lei para combater a corrupção que foram rechaçados pelo Parlamento. O partido dominante no Congresso – Força Popular – liderado por Keiko Fujimori, filha do ditador Alberto Fujimori e candidata derrotada a presidência da República, vetou as iniciativas do presidente Vizcarra. O impasse entre o presidente Vizcarra e o Congresso foi resolvido com a decisão de Vizcarra de utilizar um dispositivo constitucional que permite o presidente da República a dissolver o Congresso e convocar eleição. Keiko Fujimori respondeu ao ato do presidente com um ato estapafúrdio. Mobilizou o parlamento e usou o poder de líder do maior partido do Congresso para tentar destituir o presidente Vizcarra do cargo. Keiko perdeu a batalha e as eleições congressuais foram realizadas no último domingo.
O resultado das urnas revelou a derrota fragorosa da Força Popular. O partido de Keiko Fujimori, que havia conquistado 36,3% dos votos nas eleições de 2016, obteve apenas 7% dos votos no pleito de domingo. Um sinal claro da intolerância dos peruanos com partidos e políticos que resistem a combater a corrupção. Nos próximos 18 meses, o presidente Vizcarra e o novo Congresso podem aprovar as medidas anti-corrupção que vão contribuir para o fortalecimento da democracia e da retomada da confiança e do investimento privado no país. Enquanto o Peru escolhe o bom caminho do combate a corrupção e o fortalecimento da democracia, a Argentina mergulha novamente na ilusão desastrosa do populismo peronista.