Visualizar as curvas de ascensão e queda da atual epidemia é fundamental para quem tem responsabilidade de planejamento em plena crise, como empresários e profissionais da área de saúde. O aumento do número de mortes em uma determinada região não significa a aceleração da doença. Entenda os “insights” do prêmio Nobel de Economia Michael Levitt e dos matemáticos da Mars Asset Management na divulgação dos dados sobre a pandemia.
Winston Churchill disse famosamente que “se você estiver atravessando o inferno, continue caminhando”. A pandemia do novo coronavírus é um inferno que precisa ser atravessado. Mas ajuda bastante ter uma ideia concreta do caminho sobre brasas que ainda falta ser percorrido até atingirmos uma margem segura.
Em linguagem técnica, isso significa tentar ver com a maior exatidão possível quando ocorre em cada país o pico, ou seja, número maior de casos da doença. Isso é vital porque uma vez ultrapassado o pico, o número de casos, por mais alto que seja, começará a declinar. Para quem precisa planejar a travessia do inferno e o “day after”, saber qual é o pico é um dado vital.
O pico da epidemia nos países
A Mars — Asset Management, do economista Paulo Coutinho, produziu no Brasil o primeiro estudo dos picos da doença em diversos países. Pela última atualização da Mars, que conta com matemáticos formados pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), o quadro era o seguinte ontem, terça-feira, 24 de março.
O aumento do número de mortos e aceleração da doença
O americano Michael Levitt, ganhador do Prêmio Novel de Economia em 2013, tem sido uma das vozes mais insistentes na necessidade de tentar vislumbrar o momento de pico da epidemia do novo Coronavírus no mundo, em cada país, região e cidade. No dia 31 de janeiro deste ano, quando apenas algumas poucas pessoas fora da China se interessavam pelo avanço do vírus isolado em Wurhan, na província de Hubei, Levitt já trabalhava com dados coletados em novembro e dezembro de 2019.
“Em 31 de janeiro, a China teve 46 novas mortes em comparação com 42 no dia anterior. Parecia ruim, mas quem conhecia os dados de meses anteriores poderia intuir que se a velocidade das mortes aumentou de um dia para o outro, a aceleração da doença estava diminuindo. Esse era um dado positivo”, disse Levitt. Um nobelista de Economia sabe bem distinguir velocidade de aceleração, conceitos bastante familiares aos Físicos, mas não necessariamente de fácil compreensão para os leigos. Por exemplo, um carro de corrida pode acelerar até atingir 200 km/h. Se ele desligar o motor nesse ponto, sua velocidade pode até aumentar por alguns minutos, mas sua aceleração começa a diminuir. Ou seja, Levitt notou que embora a velocidade no número de casos de mortes aumentasse, a aceleração da doença era decrescente. Brilhante.
Levitt previu que na China o pico seria atingido em fevereiro com 80.000 casos e 3.250 mortes. Pois bem, em 16 de março, a China contava um total de 80.298 casos e 3.245 mortes — em um país de quase 1,4 bilhão de pessoas, onde cerca de 10 milhões morrem a cada ano das mais variadas causas. Michael Levitt possibilitou a primeira visão otimista, mas não simplista ou arbitrária, das possibilidades de sucesso no combate ao vírus pelos países populosos atingidos. Disse Levitt, domingo passado, ao jornal Los Angeles Times: “O que precisamos é controlar o pânico … vamos ficar bem. Os dados reais não corroboram o quadro de desgraça pintado pelos epidemiologistas.”
A epidemia na Itália
Os matemáticos da Mars, que trabalham focados em dados, tinham para a Itália a leitura da situação ilustrada pelo gráfico abaixo:
Para a Espanha, este é o quadro:
A epidemia no Brasil
Para o Brasil, a Mars tem três hipóteses de previsão do pico de casos diários e do consequente declínio era este na terça-feira, dia 24. Dependendo da qualidade da resposta à propagação do vírus, a curva da epidemia no Brasil pode ocorrer em um cenário mais parecido com a Coreia do Sul (tracejado em verde), Hubei (em laranja) ou Itália. Seja qual for o cenário, as três curvas convergem para o controle da epidemia atual por volta do final do mês de abril:
Empresários, autoridades do setor econômico e de saúde, enfim, todos com responsabilidade de planejamento deveriam gastar parte de seu tempo e esforços em tentar visualizar as curvas de ascensão e queda da atual epidemia. O Virtù faz sua parte com a divulgação dos “insights” do Nobel Levitt e dos matemáticos da Mars.