A melhor estratégia para Bolsonaro se reeleger em 2022 é ter apoio político para aprovar as grandes reformas constitucionais, e não criar indisposição com os partidos. Além de não ter dinheiro ou estrutura para vencer nos municípios, Bolsonaro tem um trunfo mais eficiente nas mãos: a gratidão de governadores e prefeitos pelo cheque com os royalties do pré-sal que salvarão Estados e municípios do aperto monetário e fiscal.
É pouco provável que o presidente Bolsonaro consiga criar o seu novo partido, a Aliança pelo Brasil, até março – prazo limite para a formação das siglas que pretendem concorrer às eleições municipais em outubro próximo. A não criação do partido é uma boa notícia para o presidente.
Não há dinheiro ou estrutura para competir nos municípios
Primeiro, o novo partido seria um entrave para Bolsonaro. Dificilmente conseguiria estruturar uma sigla sem dinheiro e sem estrutura administrativa para ter candidatos competitivos nas principais cidades brasileiras. Se perder a eleição ou não tiver candidatos competitivos nas capitais e grandes cidades, passaria a imagem de um presidente derrotado. O fim da pressão do prazo para a criação da Aliança para o Brasil até março dará tempo ao presidente para organizar e estruturar com calma o partido para as eleições de 2022. Bolsonaro quer um partido forte para se reeleger presidente e não para conquistar municípios.
Bolsonaro perde apoio político no Congresso
Segundo, a criação da Aliança pelo Brasil criaria indisposição com outras legendas. Como não terá partido nas eleições municipais, Bolsonaro poderá oferecer apoios informais aos candidatos de sua preferência sem ter o ônus das derrotas. Em vez de adversário, poderá ser um aliado importante de outros partidos. Isso lhe dará força para negociar apoios no Congresso para votar os temas nacionais.
Trunfo: distribuição dos royalties
Bolsonaro tem um trunfo muito mais importante que um novo partido para as eleições municipais: dinheiro. Enquanto os governadores estão sem recursos, o governo federal resolveu repartir os royalties do pré-sal com estados e municípios. Os prefeitos são gratos ao presidente pelo cheque salvador da pátria num ano de aperto monetário e fiscal.
A melhor receita para um governo que deseja aprovar reformas constitucionais ambiciosas num ano eleitoral – como as reformas administrativa e tributária – é não criar indisposição política com os partidos e passar ao largo das vitórias e derrotas das eleições municipais. Num universo de mais de 30 partidos políticos disputando eleições, não há como criar partidos fortes. O presidente da República está condenado a criar alianças partidárias para obter a maioria dos votos no Congresso. O futuro partido do presidente, a Aliança pelo Brasil, será apenas mais uma legenda entre uma multidão de partidos que fazem parte do jogo político.
Se Bolsonaro pretende criar partidos fortes e genuínos representantes da vontade do eleitor, deveria lutar pela aprovação do voto distrital e pelo fim dos fundos partidário e eleitoral. Esses projetos já estão tramitando no Congresso; um pequeno empurrão do Poder Executivo é suficiente para tira-los da inércia em que se encontram.