O presidente da República age irresponsavelmente ao apelar diretamente ao povo para mobilizá-lo contra as instituições democráticas. Bolsonaro quer transformar sua frustração em exercer o poder em querosene para incendiar a democracia brasileira.
A atitude repugnante do presidente Bolsonaro de ir às ruas para participar de uma manifestação orquestrada pelos seus apoiadores em defesa de uma intervenção militar marca o início da terceira fase do nacional populismo: o assalto às instituições democráticas.
A primeira é a conquista do poder por meio do voto e da promessa de restaurar a soberania popular que fora destruída pelo PT, pela corrupção e pela conivência dos partidos tradicionais e instituições. Uma vez no poder, iniciou-se a segunda fase: o ataque permanente às instituições democráticas tratando-as como um obstáculo intransponível, que impede o presidente de governar e realizar a vontade popular. A terceira fase consiste em apelar diretamente ao povo para mobilizá-lo em torno do assalto final às instituições democráticas.
O argumento é que as instituições impedem a existência da verdadeira democracia. Assim, busca-se o sepultamento da democracia representativa, silenciando a imprensa, transformando o Parlamento e a Justiça em instituições submissas aos desígnios do presidente da República, e governando com o apoio das Forças Armadas.
A tática da vítima do sistema político
Esse roteiro perseguido por líderes populistas na Turquia, Hungria e Polônia dizimou as democracias nesses países e testará a resiliência das instituições democráticas no Brasil. Os Poderes Legislativo e Judiciário e as Forças Armadas precisam estar alinhados na resposta contundente ao presidente da República. A unidade dos poderes e o tom da resposta das instituições são fundamentais para tranquilizar o País. Bolsonaro segue o perigoso caminho do presidente Jânio Quadros. Ao apresentar-se como vítima das instituições que o impediam de realizar a vontade popular, tentou emparedar as instituições. Renunciou ao poder, esperando que as Forças Armadas o reinstituíssem no cargo com plenos poderes para realizar a vontade popular.
Bolsonaro procura se apresentar como vítima do sistema político para camuflar seu fracasso como governante, sua absoluta inépcia em liderar o País na crise do coronavírus e seu desconforto em lidar com os limites institucionais do poder. O presidente quer transformar sua frustração em exercer o poder em querosene para incendiar a democracia brasileira. Nosso papel como sociedade é não deixar que Bolsonaro se torne o imperador Nero brasileiro.