Artigo de Denilde Holzhacker| Doutora em ciência política pela USP. Foi visiting scholar no Bentley University, (MA, EUA). Professora na ESPM e coordenadora do Legislab-ESPM. É professora do MLG – Master em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP.
A novidade do resultado do 1º turno na cidade de São Paulo foi que o PSDB não disputará o 2º turno com o PT. Os eleitores à esquerda serão representados pelo candidato do PSOL, Guilherme Boulos, que, com 20% dos votos válidos, teve uma surpreendente ascensão na disputa.
Guilherme Boulos não é um desconhecido da cena política. Em 2018, sua candidatura à presidência obteve apenas 0,58% do total de válidos, com 617 mil votos. Foi o pior resultado eleitoral do PSOL em âmbito nacional. O péssimo resultado na eleição de 2018 alterou a estratégia política de Boulos em 2020, sendo expressivas as mudanças tanto na forma, quanto no conteúdo das mensagens. A comparação entre as campanhas evidencia o objetivo de Boulos e do partido de se firmarem como a expressão da esquerda progressista. O sucesso não foi apenas de Boulos, mas também do partido na conquista de vagas no legislativo, com a formação de bancada plural, diversificada e alinhada às pautas identitárias.
Inspirado no modelo dos partidos europeus progressistas no contraponto à extrema direita, como o Podemos, Boulos posicionou-se – como definido por Ronald F. Inglehart e Pippa Norris – no espectro pós-materialista cosmopolita, que defende o pluralismo democrático, o multiculturalismo e os valores progressistas (ou seja, defesa da proteção ambiental, direitos LGBT, igualdade racial e de gênero, direitos humanos etc), especialmente no ambiente digital.
Diferentemente de 2018, em que as pautas tradicionais e conservadoras emergiram no debate eleitoral, em 2020 observamos o fortalecimento das pautas defendidas por movimentos e ativismo social no debate público. A narrativa de campanha de Boulos teve forte ressonância com esse debate, especialmente no ambiente digital, firmando-o como um representante dos valores progressistas de esquerda.
A narrativa da campanha também buscou descontruir as percepções negativas sobre seu ativismo no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), focando a coerência entre suas visões e o estilo de vida mais humilde. Inclusive, o seu carro tornou-se um personagem para enfatizar esse estilo de vida.
O seu sucesso no âmbito digital é outra marca importante da campanha Boulos. Dados da Bites Consultoria mostram que Boulos possuiu 3 milhões de seguidores (contabilizados facebook, twitter e instagram). Durante a propaganda eleitoral, ele produziu 3429 posts e obteve 25 milhões de interações e engajamentos. A campanha de Bruno Covas (PSDB), por outro lado, teve apenas 17 mil interações durante o período de propaganda eleitoral. Não apenas é o tamanho da rede que tornou a campanha digital de Boulos um sucesso, mas sim a diversidade dos formatos de interação com a audiência, ele promoveu reality show de 24 horas, participou de lives e interagiu com celebridades via redes sociais.
Semelhante ao processo adotado por Obama, em 2008, ele construiu uma rede integrada entre o ativismo online e offline. Por estar conectado aos movimentos e coletivos sociais, o PSOL manteve mobilizada sua base de apoio e amplificou a disseminação de suas mensagens pelas redes sociais.
O 2º. turno traz novos desafios para sua estratégia. De acordo com a pesquisa Ibope, Bruno Covas se consolida na liderança, com 47% das intenções de voto no 2º turno. Boulos (com 35% das intenções de voto) terá que melhorar seu desempenho nos bairros periféricos, entre os mais velhos e evangélicos. Além disso, a falta de experiência administrativa e propostas controversas, como aumento de taxas municipais e aumento dos gastos públicos, serão mais exploradas nos debates do 2º turno e na propaganda eleitoral.
Outro teste para a campanha Boulos será manter o sucesso da campanha digital também no horário de propaganda na TV e rádio (dividido igualmente entre os dois candidatos). Covas contou, no primeiro turno, com uma boa estrutura de propaganda tradicional, mas pouco avançou na comunicação digital.
Independentemente do resultado em 29 de novembro, Boulos emerge como um político que soube mudar sua narrativa e será uma força importante no campo progressista em 2022.
LIDERANÇA E GESTÃO PÚBLICA | QUEM É QUEM
Professores do Máster em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP

Patricia Tavares
Doutora em Administração pela FGV, Visiting Fellow of Practice da Blavatnik School of Government, Universidade de Oxford. Co-fundadora e sócia da Datapedia.info, a maior plataforma de dados sócio-econômicos e eleitorais do país. Consultora e Professora do Insper e do CLP.
Humberto Dantas
Doutor em ciência política pela USP, pesquisador pós-doutorando em administração pública pela FGV-SP. Head de Educação do CLP e coordenador do MLG – Master em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP.
Antônio Napole
Administrador de empresas pela FGV-EAESP, bacharel em Rádio TV pela FAAP e mestrando em jornalismo nas Cásper Líbero. Napole é professor do MLG e vice presidente da Kaiser Associates, consultoria de estratégia.
Fernando S. Coelho
Doutor em administração pública pela FGV, professor de gestão pública da EACH-USP. Docente-colaborador do Master em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP.
Diego Conti
Doutor em administração pela PUC-SP e pela Leuphana Universität Lüneburg (Alemanha) em governança urbana e sustentabilidade. Mestre em administração pela PUC-SP com pesquisa sobre indicadores de sustentabilidade. Consultor internacional, pesquisador e professor de pós-graduação do mestrado em Cidades Inteligentes e Sustentáveis da UNINOVE e professor associado do CLP – Liderança Pública.
Denilde Holzhacker
Doutor em ciência política pela USP. Foi visiting scholar no Bentley University, (MA, Estados Unidos). Professora na ESPM-SP e coordenadora do Legislab-ESPM. Integra a rede de professores MLG – Master em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP.
Vinícius Müller
Doutor em História Econômica, colaborador da Revista Digital Estado da Arte, do Estadão, e professor do INSPER e do CLP. Autor de Educação Básica, Financiamento e Autonomia Regional (Ed. Alameda)
Rodrigo Estramanho
Bacharel em Sociologia e Política pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (ESP), Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP. É professor na FESPSP e no MLG, pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (NEAMP) da PUC/SP e psicanalista membro do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
Humberto Falcão Martins
Professor da EBAPE/FGV e EAESP/FGV, visiting fellow na London School of Economics. Fundador do Instituto Publix. Foi Secretário de Gestão no Min. do Planejamento, delegado do Brasil no Comitê de Gestão Pública da OCDE e Presidente da Rede de Gestão Pública e Transparência do BID. Bacharel em Administração pela UnB, Mestre em Administração Pública pela EBAPE/FGV, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (ENAP) e Doutor em Administração pela EBAPE/FGV.
Eduardo Deschamps
Doutor em Engenharia pela UFSC, Professor da Universidade Regional de Blumenau – FURB e do MLG – Master em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP. Conselheiro do CEE-SC. Presidente do CNE (2016-2018).
Gabriela Lotta
Doutora em ciência política pela USP, professora de administração pública pela FGV EAESP. Coordenadora do Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB/FGV).