O economista Daniel Duque analisa como a disparada da inflação e o desemprego elevado colocam o País entre os piores do mundo na taxa que mede o desconforto com relação à situação. Superar a crise depende de reformas que aumentem o potencial de crescimento
O aumento de preços nos itens básicos rende dezenas de memes e piadas nas redes sociais. É o humor, cumprindo a sua missão de aliviar as ansiedades do dia a dia e ironizar a conjuntura do País. Não bastasse o desastre da Covid-19, multiplicado pela inoperância do governo, os brasileiros precisam enfrentar as angústias do desemprego e da inflação.
Pegue-se o caso de um motorista de aplicativo, por exemplo. Esse era um das ocupações que vinham servindo de válvula de escape para a crise do emprego. Mas, desde o início da pandemia, a atividade vem enfrentando dificuldades. Primeiro, houve a queda no número de viagens, uma consequência direta das restrições ao trabalho presencial nos escritórios. O desemprego reduziu o número de clientes.
Agora, com a lenta abertura econômica, os motoristas enfrentam o aperto causado pelo aumento no custo dos combustíveis e na manutenção dos veículos — sem falar na alta no preço dos carros, tanto novos quanto usados.
Um índice que procura medir o grau de desconforto das famílias com relação à sua situação financeira dá uma dimensão da atual crise. O mal-estar econômico está hoje em um nível recorde histórico. Esse indicador combina a taxa de desemprego com a taxa de inflação. Somando-se as duas taxas, o número para o Brasil fica próximo de 20%.
Trata-se do pior resultado desde agosto de 2016, como mostra um estudo dos economistas Daniel Duque, João Santos Sousa e João Victor Duarte. Por essa medida, a situação vivida pelos brasileiros é, portanto, ainda mais desafiadora do que a vista nas recessões de 2015 e 2016.
A análise demonstra que, apesar de todo o mundo enfrentar dificuldades por causa da pandemia, por aqui as agruras têm sido ainda maiores. Entre 38 países analisados, apenas a Turquia possui uma taxa de mal-estar econômico maior do que a brasileira.
“O Brasil vive uma situação única no mundo. O mercado de trabalho já estava deteriorado havia muito tempo, desde 2015. Melhorou um pouco em 2020, mas voltou a piorar com a pandemia. Somos um país de altíssima taxa de desemprego. Para piorar, a pandemia foi muito dura para os brasileiros, porque uma série de atividades informais ficaram impedidas por questões sanitárias”, afirma Daniel Duque, head de inteligência técnica do Centro de Liderança Pública (CLP) e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre). “No que diz respeito à inflação, ela está próxima de 10%, algo que não ocorria desde 2015, e as pressões devem continuar nos próximos meses”.
As projeções não são favoráveis. A inflação escapou do controle. A meta oficial é de 3,75% para este ano, mas atualmente está em 9% ao ano. Uma análise sobre esse assunto pode ser vista na entrevista do Virtù com o economista Affonso Celso Pastore, uma das maiores autoridades do País no tema. Houve o efeito sobre os preços da quebra de fornecimento de alguns produtos, com os chips usados na fabricação de automóveis. Existe ainda o efeito da crise hídrica, que bate na conta de luz.
Ocorreu uma valorização internacional dos alimentos. Mas esses choques poderiam ter sido suavizados, caso o Banco Central tivesse agido mais rapidamente. Os efeitos seriam menores também se não houvesse uma alta tão acentuada do dólar. E por que a moeda americana disparou? Os investidores preferiram colocar seus recursos em outros países, mais seguros e menos turbulentos politicamente.
Com relação ao desemprego, a retomada das atividades vem criando vagas, mas não no ritmo necessário para compensar as perdas anteriores e absorver as pessoas que entram no mercado de trabalho em busca de uma ocupação.
Diminui a convicção, entre os economistas, de que haverá uma retomada mais sólida com avanço da vacinação. A falta de reformas, a instabilidade política e a frágil situação fiscal inibem os investimentos de longo prazo. O dólar tende a ficar mais caro, com impacto na inflação. O Banco Central precisa reagir e sobe os juros. Resultado: menos crescimento e mais desemprego.
O Brasil, assim, vai na contramão do mundo. O mau-humor contaminou o mercado financeiro, que, até pouco tempo atrás, era uma ilha de euforia em meio à crise. A bolsa de São Paulo está em queda desde junho, enquanto as bolsas americanas e europeias batem recordes históricos de valorização.
“O problema central é que o Brasil está com um crescimento potencial muito baixo”, diz Duque. “O PIB consegue crescer em torno de 2% ao ano no longo prazo. Em termos per capita, isso dá 1%. O baixo crescimento significa pouco potencial de geração de empregos”.
Nesse cenário de crises em série, a taxa de desemprego tem se mantido acima de 10% desde 2016. Pelas projeções dos economistas, apenas em 2025 ela voltará a ficar abaixo desse patamar, caso não surjam novas surpresas negativas pelo caminho.
A retomada mais rápida depende de um ajuste nas finanças públicas, do combate à inflação e de reformas que incentivem os investimentos produtivos. Houve algumas iniciativas positivas, como os novos marcos regulatórios na infraestrutura. Mas serão necessárias muitas outras reformas para destravar a produtividade. Difícil imaginar que o atual governo consiga liderar esse conjunto de ações essenciais para diminuir o mal-estar que castiga os brasileiros.
mais um museu de grandes novidades…o Brasil cada vez mais isolado .procurar um culpado não serve a nada,pelo simples fato de que por traz de todo culpado há um cúmplice.o Brasil sempre será o país de um futuro que tarda a chegar e está sempre escapando-nos.ainda uma vez encontrar culpados não serve a nada.imperativo assumir que é possível viver com taxas de satisfação aceitáveis vivendo em uma dose de auto engano alta sabendo que a diferença entre o medicamento e o veneno é a dose,voilà