Para o brasileiro, proteger a natureza e a biodiversidade é uma questão ética. A riqueza que pode ser gerada a partir da floresta e os efeitos do desmatamento para o investidor estrangeiro são fatores secundários. É a conclusão da pesquisa do Observatório Febraban.
No entanto, os 20 milhões de brasileiros da região dependem do desenvolvimento de atividades produtivas. Do contrário, o vácuo institucional continuará ocupado por madeireiros ilegais, garimpeiros clandestinos e grileiros. A exploração sustentável é o caminho para preservar a Amazônia e proteger o bem-estar de sua população.
A Amazônia legal abrange áreas de nove Estados brasileiros, numa vastidão que corresponde a 60% do território do Brasil e onde vivem 20 milhões de pessoas. A necessidade de proteger o ambiente é óbvia – e é também o desejo da avassaladora maioria dos brasileiros, como revelam pesquisas recentes. Mas é perigosa a ideia de que a Amazônia deve permanecer intocada. A região precisa ser desenvolvida, mas de maneira legal e sustentável. Senão, quem ganhará terreno serão os criminosos.
A transformação verde já ocorreu na sociedade. Não houve ainda a transformação política, mas ela está em curso. Essa é a avaliação do cientista político Sérgio Abranches. Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, Abranches afirmou que uma coisa é certa: “Quando ocorrer a transição de geração no poder, o mundo vai ser sustentável. Os valores já mudaram na base da sociedade, só que eles ainda não têm poder político. As novas gerações ainda não estão no poder”.
Pesquisa Febraban-Ipespe
Os números de uma pesquisa de opinião realizada pelo Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) parecem confirmar a análise do cientista político. Publicada na mais recente edição do Observatório Febraban, os brasileiros demonstram preocupação crescente com questões ambientais e descontentamento profundo com relação à atuação dos governos na proteção da Amazônia. Os políticos que não prestarem atenção a isso estarão fora de sintonia com os anseios da grande maioria do eleitorado.
Quando questionadas sobre quem defende melhor a Amazônia, metade das pessoas ouvidas aprovam a ação do governo federal. A avaliação dos governos estaduais é ainda menor. A maioria defende o endurecimento das penas contra o desmatamento ilegal e se opõe aos garimpos em terras indígenas.
Os números corroboram outra pesquisa recente, do instituto Gallup, na qual 78% dos brasileiros se dizem insatisfeitos com as ações de defesa do meio ambiente. O percentual era de 66% há dois anos.
Tão perto, tão longe
Segundo a pesquisa Febraban-Ipespe, 86% das pessoas que vivem nas outras regiões do País nunca viajaram para a Amazônia e 89% nunca estiveram na Floresta Amazônica. Metade dos brasileiros que vive na Amazônia Legal também nunca conheceu de perto o bioma amazônico.
A população que vive na Amazônia mostra menos pessimismo quanto à preservação: 22% dos moradores da região dizem acreditar que houve uma melhora nos últimos anos, contra 12% na pesquisa nacional.
Proteção por princípio
O brasileiro, de uma maneira geral, acredita que a Amazônia deva ser defendida por uma questão de princípio. É ético proteger a natureza e a biodiversidade. Para os entrevistados, questões como o lucro que pode ser gerado a partir da floresta, e os efeitos sobre a imagem internacional do Brasil na alocação de recursos dos investidores estrangeiros devem ser vistos como fatores secundários.
Exploração sustentável
A séria crise no combate ao desmatamento parece ter deixado os brasileiros mais desconfiados quanto à possibilidade da exploração da Amazônia — mesmo quando feita de maneira legal e sustentável. É preciso reverter essa percepção, porque a região, uma das mais pobres e atrasadas do País, precisa ser desenvolvida.
Vinte milhões de brasileiros habitam a região. Eles necessitam trabalhar e, para tanto, dependem do desenvolvimento de atividades produtivas que sigam as leis e respeitem o ambiente. Do contrário haverá ainda mais incentivos para que o vácuo institucional seja ocupado por madeireiros ilegais, garimpeiros clandestinos e grileiros. A exploração sustentável é o caminho para preservar a Amazônia e proteger o bem-estar de sua população. É preciso fazer os brasileiros acreditar que isso é possível.