Virtù Talks entrevista Carolina Ricardo. Diretora do Instituto Sou da Paz, a especialista em segurança pública comenta as ações que Bolsonaro tem usado para enfraquecer as restrições ao comércio de armas e munições. Mais grave. Bolsonaro tem atuado firmemente para diminuir o controle do Estado sobre as armas.
Virtù Talks entrevista a advogada e socióloga Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz. A organização é dedicada ao estudo da segurança pública. Tem como objetivo propor soluções eficientes, práticas e coletivas, por meio de políticas que respeitem os valores democráticos e os direitos humanos.
Ao Virtù, Carolina comenta as ações que o presidente Jair Bolsonaro, desde o início de seu governo, tem usado para enfraquecer as restrições ao comércio de armas e munições. Bolsonaro atuou também para esvaziar iniciativas destinadas a aperfeiçoar o rastreamento dos armamentos que são produzidos e importados pelo País.
00:13 As investidas de Bolsonaro na flexibilização do porte e controle de armas
00:59 Mais armas, mais potência e menor capacidade de controle
04:29 Armas como legítima defesa
06:06 A relação das armas legais com o mercado ilegal
08:26 Falta investimento e discussão sobre segurança pública
09:42 Quem apoia a flexibilização do porte de armas
10:12 Postura técnica X postura política do Exército
13:20 Consequências da falta de valorização das nossas polícias
15:13 A possibilidade de levante policial
“Uma pessoa pode ter o direito de ter a sua arma, mas ela precisa entender que a posse desse bem gera consequências para a coletividade”, afirma Carolina. “A questão não é gostar ou não de ter armas, mas é preciso haver controle, como previsto no Estatuto do Desarmamento.”
Como lembra Carolina, Jair Bolsonaro nunca escondeu que isso seria uma das prioridades de seu governo. “Foi algo que ele sempre defendeu em seus 30 anos de atividade política, falando para grupos específicos. É algo legítimo, mas que não pode se sobrepor à política responsável de controle de armas.”
É cedo para medir os impactos na violência, mas a venda de armamentos disparou desde 2019. Em dois anos de governo Bolsonaro, o número de armas registradas por cidadãos comuns aumentou 72%; as registradas por caçadores, atiradores e colecionadores, 58%. Entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020, o número de clubes de tiro cresceu 790%. Além do risco de aumento em casos de violência doméstica, há outro problema sério decorrente dessa corrida armamentista: o mercado legal de armas, frequentemente, abastece o ilegal.
A especialista em segurança pública explica por que é enganoso o argumento de que mais armas representam mais segurança. “O que precisamos, de fato, é investir nas polícias, com treinamento e tecnologia”, afirma. “Deveríamos estar discutindo quais os melhores modelos de gestão, como integrar o trabalho das polícias civil e militar, quais as métricas de avaliação.”
Segundo Carolina, o histórico de insatisfação na base das polícias vem sendo explorado politicamente por Bolsonaro e seu grupo de apoiadores. “Precisamos fazer um mea-culpa. O campo progressista sempre soube criticar, mas não soube valorizar o trabalho das polícias e construir alternativas. Bolsonaro surfou nessa onda. As polícias viram nele alguém quer daria o reconhecimento que esperavam.”
Mas, inflamar caldeirões de movimentos grevistas, o presidente tem feito pouco de efetivo para valorizar os policiais. Um exemplo foi o motim ocorrido no Ceará. Sobre o risco de uma sublevação nacional das polícias em apoio a Bolsonaro, Carolina afirma: “Podemos ver uma cisão entre os comandos, que têm uma visão mais de gestão, e os policiais da base, os praças. Mas não acredito que se houver um chamamento por parte do governo de Jair Bolsonaro, as bases da polícia vão aderir em massa. O risco maior é de uma greve branca, com a polícia deixando de atuar e realizar o seu trabalho. Seria um caos.”