Ao final de 2020, o Brasil terá chegado ao fim de uma das décadas mais negativas de sua história em termos de crescimento econômico. Os números antes da pandemia já não eram bons, mas se tornaram agora ainda piores. As projeções mais recentes indicam que, muito provavelmente, haverá uma queda na renda per capita no período acumulado dos últimos dez anos. Terá sido, portanto, uma nova década perdida. Na média, cada brasileiro ficou mais pobre do que era em 2010. As consequências do retrocesso social são visíveis, e o caminho para reverter esse quadro sombrio é acelerar as reformas, destravar o crescimento econômico e aperfeiçoar os programas sociais.
Enquanto o País patina, os números mostram o quadro de retrocesso. De acordo com as estimativas mais recentes do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas, a renda per capita deverá recuar 0,9% entre 2010 e 2020. Trata-se de um tombo mais profundo do que o registrado na década perdida dos anos 80, quando houve um recuo de 0,4%.
A economia emergiu fragilizada, depois da recessão de 2015 e 2016. A criação de empregos perdeu força, e os programas sociais, como o Bolsa Família, amortizaram o tombo, mas não foram capazes de evitar a marcha à ré nos avanços ocorridos na década anterior.
Desigualdade de renda
Até mesmo a desigualdade de renda, anteriormente em queda, voltou a subir. Segundo o estudo “A Escalada da Desigualdade”, do Centro de Políticas Sociais da FGV, a piora no indicador teve início no final de 2014, ainda no final do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Desde então, a desigualdade subiu constantemente. O início da reversão poderia ocorrer a partir deste ano, de acordo com o economista Marcelo Neri, coordenador do estudo, mas a profunda recessão e o aumento no desemprego deixaram o cenário turvo.
Queda momentânea da desigualdade
Momentaneamente, graças ao programa de auxílio emergencial do governo federal, houve um ingresso maciço de recursos para as famílias mais pobres e, como as pessoas mais ricas tiveram perda de rendimento com a crise, houve uma redução na desigualdade. Mas isso é um retrato possivelmente passageiro. Não há recursos disponíveis para estender o socorro por muito mais tempo. Além disso, trata-se de um programa feito às pressas e repleto de falhas. Muita gente que não deveria receber está recebendo, ao passo que necessitados não conseguem acessá-lo.
Consumo
Uma outra maneira de avaliar as movimentações sociais no interior da economia brasileira é a partir dos dados e projeções do World Data Lab, uma das principais fontes para a análise de tendências internacionais nos campos da demografia e do consumo. E o que dizem os números do Brasil? Em 2016, a faixa mais pobre, (que consume menos de 11 dólares por dia) representava 11% da população. O percentual deverá subir para 12% da população. Olhando adiante, as projeções do World Data Lab indicam que, até 2030, o percentual dos mais pobres na população vai recuar para 9% do total.
A conclusão a partir dos números é que os próximos anos serão desafiadores. Caso a economia não se recupere logo, haverá um retrocesso ainda mais severo nos indicadores de renda. O Bolsa Família reduziu a miséria, mas não resolve, sozinho, a chaga social. Uma em cada quatro crianças vive na pobreza.
O melhor programa de redução de pobreza é a geração de empregos, e, para abrir postos de trabalho, a economia precisa voltar a crescer, como defende o movimento Unidos pelo Brasil, coordenado pelo Centro de Liderança Pública (CLP). Além disso, os programas sociais precisam evoluir. O Bolsa Família foi bem-sucedido em diversos aspectos, mas, de acordo com os especialistas, precisa ser ampliado e elevar o valor médio desembolsado por criança. Diante da escassez de recursos, o programa precisa ser muito bem focado nos que realmente o necessitam e, para isso, é essencial criar um cadastro atualizado e que utilize as tecnologias avançadas de acompanhamento, como recursos de biometria.
Passou a hora de agir e defender as reformas estruturais. O País não pode ter uma nova década perdida, ao preço de sofrer graves consequências sociais e políticas.