De acordo com projeções da MarketPro, entre 2020 e 2030 a classe média brasileira permanecerá estagnada. Se hoje ela representa 48% da população, em 10 anos a taxa será 53%. É pouco. Sem reformas que derrubem os obstáculos aos investimentos em produtividade, o Brasil corre o risco de perder ainda mais relevância no cenário internacional. Uma classe média forte é essencial para um país que almeja o desenvolvimento.
O avanço da classe média brasileira ocorrido nos anos de forte crescimento econômico foi celebrado como um sinal de que o País caminhava rumo a um futuro mais justo e desenvolvido. Mais de 40 milhões de pessoas saíram da pobreza e ingressaram nos estratos mais baixos da classe média, tornando-se uma importante fonte de dinamismo para a economia. No best-seller internacional “Por que as Nações Fracassam”, os economistas Daron Acemoglu e James Robinson chegaram a citar o Brasil como exemplo de país que havia criado instituições inclusivas e poderia deixar para trás a história de subdesenvolvimento.
A sequência de crises econômicas e políticas, entretanto, minou essas conquistas. A renda média dos brasileiros deixou de crescer e agora, com a pandemia, espera-se na verdade uma regressão. Uma das poucas categorias poupadas é a dos funcionários públicos, cujos empregos e salários mantêm-se blindados. No setor privado, quem não perdeu o trabalho precisou, muitas vezes, resignar-se a ganhar menos. Milhares de famílias que viviam no limite inferior da classe média voltaram à pobreza.
Olhando adiante, para depois da crise da Covid-19, as perspectivas são de um crescimento tímido da classe média no País. Isso é o que mostram as estimativas da MarketPro, umas das principais base de dados internacionais de estatísticas sobre demografia e consumo.
A MarketPro define como sendo de classe média as pessoas com a capacidade de consumir entre US$ 11 e US$ 110 ao dia. Abaixo disso, a pessoa é pobre; acima, é rica. Para facilitar a comparação internacional, os valores são ajustados pelo critério do poder de paridade de compra (PPP, na sigla em inglês).
Por esse critério, 48% da população brasileira vive com um padrão de vida considerado de classe média. São 103 milhões de indivíduos. Pelas projeções da consultoria, levando-se em consideração a demografia e o desempenho econômico esperado nos próximos anos, o percentual de brasileiros de classe média em 2030 será de 53% da população.
Portanto, concluiu-se que, se não houver uma ação coordenada que traga de volta o crescimento acelerado e os ganhos de produtividade, a classe média brasileira permanecerá praticamente estagnada. É a situação vislumbrada quando se faz o cotejo com o dinamismo social existente em outros países.
A classe média entre os Brics e na América Latina
Em nossa vizinhança, na América do Sul, o Chile já tem 83% de sua população na classe média, índice superior ao de alguns países ricos, e, até 2030, o percentual deverá subir para 89%. Na Colômbia, país que vem executando reformas importantes e abrindo a sua economia nos últimos anos, a participação deverá subir de 52% para 63%.
A Índia, que tem mantido um ritmo elevado de crescimento, haverá uma transformação avassaladora, de acordo com a MarketPro. O percentual de pessoas na classe média subirá de 33% para 63% da população. Isso significa que quase 400 milhões de indianos sairão da pobreza na próxima década.
A China deverá continuar avançando a passos largos. O percentual da população com padrão de vida de classe média já é de 60% e atingirá 84% até 2030.
Na Coreia do Sul, ocorrerá algo curioso: a classe média vai encolher de 93%, hoje, para 89% nos próximos dez anos. O motivo desse “recuo” é o alargamento da faixa superior –e de maior poder aquisitivo. Trata-se de algo semelhante ao que será visto na Alemanha.
Na Rússia, onde 91% das pessoas são consideradas de classe média, o percentual chegará a 94%. Entre os países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o grupo das grandes nações em desenvolvimento, apenas os sul-africanos possuem um desempenho ainda mais acanhado do que o brasileiro: a classe média sairá de 28% para 30% do total. Não por acaso, a história recente da África do Sul guarda semelhanças com a do Brasil: euforia com a retomada econômica seguida de crise, denúncias de corrupção e mergulho do PIB. As semelhanças incluem a realização de uma Copa do Mundo.
As essenciais reformas
Sem reformas que derrubem os obstáculos aos investimentos produtivos, o Brasil corre o risco de perder ainda mais relevância no cenário internacional. Uma classe média forte é essencial para um país que almeja o desenvolvimento – e ela só voltará a crescer se houver uma retomada sólida da economia, impulsionada pelos ganhos de produtividade. Caso contrário, apenas a classe dos funcionários públicos continuará em expansão. Daí a urgência para a aprovação das reformas estruturais e de redução das desigualdades, como defende o movimento Unidos Pelo Brasil.