Seja por oportunismo dos protecionistas europeus, ou por preocupações reais com o meio ambiente, o fato é que a questão ambiental está no centro das atenções dos investidores estrangeiros. Os maiores fundos de pensão do mundo se recusam a colocar dinheiro em países sem compromisso com a sustentabilidade. São necessárias ações concretas: intensificar o combate a queimadas, garimpos clandestinos e madeireiros ilegais; aperfeiçoar o licenciamento ambiental e a regularização fundiária. Seria um excelente começo.
A preocupação vale para todos os investidores, e não aqueles focados na categoria de ativos chamada de ESG (em inglês, Environmental, Social and Governance). Por isso, se o País não demonstrar convincentemente que é capaz de controlar o desmatamento ilegal, ficará sujeito a perder bilhões e bilhões de dólares em novos recursos e em negócios. Isso não atinge apenas as companhias ligadas diretamente ao agronegócio. Afeta todas as empresas que, de alguma maneira, participam da cadeia produtiva – sejam produtores rurais, fornecedores de máquinas e insumos, instituições financeiras. O País como um todo, portanto, sairá perdendo.
Na última semana, por exemplo, a gestora Nordea Asset Management (link to, a maior da Finlândia, decidiu encerrar as suas posições na JBS. A partir de agora, a empresa brasileira não faz mais parte da carteira de nenhum dos fundos da finlandesa, que possui € 40 bilhões sob a sua administração. A decisão partiu do comitê de investimentos do grupo, que, entre outros motivos, citou as suas preocupações com a questão ambiental.
A Nordea é uma das 29 gestoras que, em junho passado, enviaram uma carta conjunta a embaixadas brasileiras em diversos países, cobrando ação contra o desmatamento e ameaçando rever os investimentos no país. Atualmente, já são 34 as empresas signatárias dessa manifestação. Trata-se de um grupo de investidores que possuem US$ 4,6 trilhões em suas carteiras. O time de descontentes tende a crescer.
Seria trágico, para um país tão carente em investimentos como é o Brasil, perder acesso a uma fração que seja desses US$ 4,6 trilhões. Esses fundos realizam aplicações de longo prazo, em geral comprando participação acionária em companhias. Trata-se da principal fonte global de recursos para o investimento produtivo.
Ações objetivas
O Brasil precisa sair da defensiva. É a credibilidade externa que está em jogo. São necessárias ações objetivas para o País sair das cordas e não ficar vulnerável a ataques oportunistas.
Em primeiro lugar, deve-se intensificar o combate a queimadas, garimpos clandestinos e madeireiros ilegais. Para isso é necessário dar poder aos órgãos de fiscalização, e não os enfraquecer, como vinha sendo feito.
Outro passo importante é o aperfeiçoamento do arcabouço regulatório. Estão parados na Câmara dois Projetos de Lei tidos como essenciais para aperfeiçoar o licenciamento ambiental e a regularização fundiária: o PL 3.729, de 2004, e o PL 2.942, de 2019. Ambos fazem parte dos projetos elencados como prioritários pelo movimento Unidos Pelo Brasil.
É necessário também um trabalho de diplomacia. Um início seria convidar parlamentares europeus e observadores internacionais, como técnicos da OCDE, para conhecerem de perto a realidade amazônica e do agronegócio brasileiro.
Campeão em preservação e produtividade
Nenhum país preserva a natureza como o Brasil. Mais de dois terços do território nacional está protegido, seja em áreas particulares, públicas ou indígenas. A agricultura e a pecuária ocupam menos de 30% do território nacional.
Graças aos ganhos de produtividade, as lavouras brasileiras batem recordes seguidos e são capazes hoje de alimentar 1 bilhão de pessoas. O Brasil é o país que mais contribui para reduzir a fome no mundo. O Brasil, portanto, deve se orgulhar de suas políticas de preservação e também do sucesso de seu agronegócio.
Mas é também fato que a derrubada de floresta nativa, depois de anos sob controle, voltou a crescer. Por isso há uma crise de imagem mundo afora – em boa parte, também, pelas ações e declarações do presidente Jair Bolsonaro e de integrantes de sua equipe.
Em 2019, foram derrubados mais de 10.000 quilômetros quadrados de floresta nativa na Amazônia Legal, um avanço de 30% em relação ao ano anterior. Quanto representam esses 10.000 quilômetros quadrados? Apenas 0,12% do território nacional e de 0,2% da Amazônia Legal. São números relativamente pequenos, mas que, em seu efeito acumulado ao longo dos anos, causarão danos extensos – tanto ambientais como na imagem internacional do Brasil.
Na crise atual, os bons pagam pelos maus. O Brasil precisa, o quanto antes, corrigir aquilo que esteja fazendo de errado e comunicar adequadamente aquilo que esteja fazendo de correto. Enquanto isso não acontecer, a imagem internacional do país continuará sangrando, e os prejuízos vão se multiplicar.