Ainda não é possível mensurar o tamanho da crise que vem pela frente. Ela depende de uma variável indefinida: o tempo. Para além da letalidade da doença e das questões que envolvem a saúde pública mundial, economistas começam a estudar os impactos de uma freada abrupta da economia mundial, de políticas fiscal e monetária sem efeito, da aceleração da destruição de empregos, da debilidade das cadeias globais de valor.
Em época de coronavírus, existem três grandes preocupações momentâneas: evitar contato pessoal, encontrar máscara e álcool gel e fazer mágica para descobrir como pagar as contas que continuam a chegar. Enquanto governos, médicos e cientistas tentam conter a epidemia, economistas começam a calcular o efeito nefasto do coronavírus na economia mundial. Ainda não são capazes de mensurar o estrago da combinação letal do coronavírus e a guerra do preço do petróleo travada entre Arábia Saudita e Rússia, mas os sinais são preocupantes. As primeiras estimativas indicam que o mundo pode mergulhar numa recessão mais grave que a crise de 2008.
Freada abrupta da economia mundial
O primeiro indício é a freada abrupta da economia mundial. Ela ocorreu num momento de fragilidade das economias mundiais. A Europa estava estagnada, a China desacelerando e a América Latina atolada no baixo crescimento. Somente os Estados Unidos davam sinais de vitalidade. Mas a crise acabou com a festa americana. Os mercados derreteram, as bolsas despencaram e a forte desaceleração já ameaça nocautear o crescimento projetado. A recessão bate à porta da economia mundial e dos Estados Unidos. Estamos todos no mesmo barco.
Políticas fiscal e monetária sem efeito
O segundo indício é a perda de validade dos antigos remédios fiscais e monetários para reanimar a economia. Estímulo monetário quando o juro real está próximo de zero não tem a mesma eficácia do passado; tampouco estímulos fiscais. Eles podem trazer alívio imediato para indústrias afetadas pela crise, mas não resolvem a questão de impulsionar o crescimento. Ademais, provocam um perigoso efeito colateral: agravam o problema fiscal de governos que já estão altamente endividados. É a velha história de cobrir um santo para descobrir outro.
Aceleração da destruição de empregos
O terceiro indício é a eventual aceleração do processo de destruição de empregos. Setores de serviços que geram emprego, como é o caso do turismo, foram fortemente afetados pela parada brusca da economia. Companhias aéreas, por exemplo, sofreram imensamente com as restrições de vôos impostas por mais de 80 países e o cancelamento de viagens que atingiram 98% dos voos cuja destinação era a Ásia. Empresas aéreas, que já cambaleavam antes da crise, lutam agora para evitar a bancarrota. O turismo representa mais de 20% do PIB de países como Grécia, Espanha e Portugal e 7% do PIB dos Estados Unidos.
Debilidade das cadeias globais de valor
O quarto indício é o grau de debilidade das cadeias globais de valor. No mundo globalizado, a cadeia de oferta e demanda de matéria prima, bens manufaturados e produtos industrializados não respeitam mais fronteiras. Portanto, uma epidemia mundial como o coronavírus, desestrutura toda a linha de produção de empresas.
A questão central para mensurar o impacto e magnitude da crise depende de uma variável indefinida: o tempo. Se a epidemia arrefecer até maio ou junho, ainda há esperança de uma recessão mais amena. Se estender além desse prazo, teremos uma recessão mais forte e duradoura. Portanto, é hora de ser prudente e conservador ao navegar nesse mar revolto.