Depois de aprovar uma reforma abrangente na previdência e na carreira dos servidores, governador do RS acelera venda de estatais, faz ajustes nas contas do estado e busca a nomeação do PSDB para concorrer à Presidência
No próximo dia 16 de julho, vai à leilão o controle da estatal gaúcha Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE-T). Será mais uma etapa do programa de ajuste nas contas públicas e reformas estruturais conduzido pelo governador Eduardo Leite. O valor mínimo estabelecido para a privatização foi de R$ 1,6 bilhão.
Em março passado, já havia ocorrido a transferência do controle da estatal de distribuição energética, a CEEE-D. Os novos controladores privados vão assumir um passivo de R$ 3,5 bilhões. Estão nos planos do governador tucano privatizar outras estatais gaúchas, entre elas a Sulgás, companhia de gás, e a Corsan, de saneamento. Haverá também concessões de rodovias.
Enquanto o Rio de Janeiro, atolado no caos político e financeiro, protela reformas e perpetua a crise, o Rio Grande do Sul, sob o comando de Eduardo Leite (PSDB), vem se dedicando a uma intensa agenda de reformas. O estado se mantém como um dos mais endividados do País, mas as contas e os salários voltaram a ser pagos em dia, depois de cinco anos de atrasos constantes.
Enquanto o governo federal isenta-se da responsabilidade de encabeçar reformas que mexam com os privilégios do funcionalismo, Leite conseguiu ver aprovadas, no ano passado, novas regras para a previdência e para a carreira dos servidores gaúchos. A reforma administrativa valerá para todos funcionários do estado, incluindo os atuais da ativa, e não apenas para os novos contratados. A reforma incluiu também os policiais militares e os bombeiros. No total, a economia prevista para a próxima década chega a R$ 18 bilhões.
Eduardo Leite, que iniciou carreira política como vereador e depois prefeito em Pelotas (RS), vai assim assumindo protagonismo no cenário político nacional. Colocou-se com postulante à disputa por uma vaga na corrida presidencial do próximo ano e tem sido um dos articuladores do centro democrático. Aos 36 anos, alia juventude e experiência administrativa na máquina pública – qualidades que, de acordo com cientistas políticos, são valorizadas por eleitores que buscam uma alternativa em relação aos dois líderes nas pesquisas até aqui, Lula e Bolsonaro.
Na semana passada, Leite participou do debate Primárias, ao lado de Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM), dois outros possíveis nomes capazes de furar as bolhas da polarização. O governador gaúcho foi notícia também por ter falado abertamente de sua homossexualidade.
Em um artigo publicado no Virtù, Tadeu Barros, diretor de operações do Centro de Liderança Pública, analisou o histórico de décadas de extremo desarranjo nas finanças do governo gaúcho, apesar de o estado possuir a quarta maior economia do País. Barros mostra também alguns indicadores positivos iniciais decorrentes das reformas de Leite, entre eles o aumento de espaço no orçamento para investir nas áreas prioritárias, como educação e saúde. Em 2020, as despesas de pessoal, que em uma década haviam subido 187%, o dobro da inflação no período, reduziram-se em 3,8% em relação ao ano anterior, uma economia estimada em aproximadamente R$ 1 bilhão.
Eduardo Leite contou a sua experiência na liderança de reformas em uma entrevista ao Café CLP. Na conversa, ocorrida em março passado, o governador detalhou como conseguiu fazer a agenda reformista ganhar tração num estado tradicionalmente refratário a reformas. Os melhores momentos podem ser assistidos no canal do Virtù no YouTube (Eduardo Leite | Melhores momentos no ‘Café com CLP’).
“Aprendi com muita clareza que política é exatamente a ferramenta na democracia para que possamos conciliar as diferenças e avançar”, declarou o governador no encontro. “Essa forma de fazer política, que se reconhece a urgência de medidas, mas que reconhece os espaços para constatações dentro da democracia”.
Sobre o futuro, destacou a importância de recuperar a confiança no Brasil: “Uma estabilidade institucional, como a deixada pelo ex-presidente Fernando Henrique, cria um ambiente mais equilibrado e sensato, para que a energia política esteja debruçada no que realmente importa: agenda de reformas para o País ter condições de se reestruturar fiscalmente, ser mais simples para o empreendedorismo e avançar na agenda institucional política”.
Leite tem dado provas de que é possível aprovar ajustes difíceis, mesmo em meio à crise da pandemia. Mas isso depende de muito diálogo, objetivos claros e, obviamente, vontade política.