Exportação de carnes está em bom momento, mas indústria brasileira precisa concorrer internacionalmente.
O economista Leonardo Xavier, professor da UFRGS e estudioso das cadeias produtivas do setor agropecuário no Sul do País, enxerga benefícios para a balança comercial brasileira com o aumento dos preços da proteína animal no mercado internacional, consequência de uma epidemia que vitimou milhões de animais na Ásia, em especial na China. Por outro lado, o efeito no mercado brasileiro foi nocivo ao consumidor. Com a força da demanda chinesa, os preços anualizados das carnes de origem suína subiram 10% no Brasil. Abaixo, os principais textos da entrevista:
Preços das proteínas
Virtù — Quais os efeitos principais da Peste Suína?
Em nível global, ela provocou desabastecimento do mercado de proteína animal. A estimativa da FAO é de que, até outubro, haviam sido sacrificados 6,2 milhões de porcos em decorrência da enfermidade. Isso provocou aumento nos preços internacionais dos produtos de proteína animal. A diminuição da oferta não arrefeceu o apetite dos consumidores chineses pela carne suína. Assim, foi inevitável o aumento nos preços internacionais das carnes.
Virtù – Qual o impacto positivo sobre a balança comercial brasileira?
Conforme a ABPA, entre janeiro e outubro de 2019, a exportação de suínos atingiu US$ 1,2 bilhão, resultado 23% superior ao obtido no mesmo período de 2018, com expansão de 11,66% do volume. A carne de frango, por sua vez, teve expansão, para o mesmo período, de 4,3% (de 5,5 para 5,7 bilhões de dólares, no comparativo de janeiro a outubro de 2018, para janeiro e outubro de 2019). Estes números impactam positivamente a balança comercial brasileira.
Virtù — A consequência óbvia é a alta do preço da proteína animal para o consumidor brasileiro, não?
A contrapartida para o mercado interno é a tendência de aumento do preço das carnes. Isso já apareceu no índice de preços ao consumidor amplo (IPCA) do IBGE. No mês de outubro de 2019, as carnes tiveram aumento de 1,4%, em relação ao anterior. No acumulado do ano, 3,8%. Especificamente, em relação à carne de porco, o aumento acumulado no ano foi de 10%.
China, indústria e comércio
Virtù – O senhor acha viável a criação de um mercado comum com a China, como prometeu o ministro Paulo Guedes recentemente?
Por questões tecnológicas, de produtividade dos fatores, de estruturas de mercado e pela falta de infraestrutura adequada, fica claro que a indústria brasileira não está preparada para concorrer com a indústria chinesa. A estrutura tributária e cartorial do Estado brasileiro torna essa competição ainda mais desigual. Esses obstáculos todos aumentam demais os preços finais dos produtos industriais brasileiros. A afirmação do ministro talvez tenha sido motivada pela intenção de ganhar a atenção da comitiva chinesa. O que há de oficial e concreto é o que tem sido feito recentemente para aumentar o fluxo de comércio com a China. Exemplo disso são as novas habilitações de frigoríficos de aves e de suínos pela China.