Para o ex-diretor do Banco Central, há motivos para o Brasil celebrar o momento econômico atual.
Economista e ex-diretor do Banco Central, Figueiredo demonstra otimismo com a economia e acredita que o juro baixo transformará relação do brasileiro com crédito e investimentos. Além disso, o juro baixo obrigará quem possui dinheiro investido em CDI a procurar aplicações de maior risco, como ações e fundos imobiliários. “Acabou a era dos rentistas do mercado”, conclui Luiz Fernando Figueiredo.
Considerado um dos maiores nomes do mercado financeiro no Brasil, Luiz Fernando Figueiredo conversou com o Virtù News sobre o momento econômico do país. Segundo o sócio-fundador e CEO da Mauá investimentos, o momento é bom e as perspectivas são de melhora progressiva da economia, mantido o atual andamento. “Na nossa visão, o que está acontecendo é muito melhor do que as pessoas estão percebendo.”
Os principais trechos da entrevista:
Juros
“O fenômeno do juro baixo, com a perspectiva de continuar baixo durante muito tempo, nunca aconteceu. A gente até viu isso no governo Michel Temer, mas o país estava em frangalhos. Isso, e o país com uma cara um pouquinho melhor, nunca aconteceu. O juro baixo está detonando uma série de processos positivos muito relevantes. Um deles é a diminuição da alavancagem brutal do Brasil no exterior. O valor da dívida externa corporativa foi reduzido. E quem tem dinheiro não deixa mais em poupança ou CDI. Precisa investir em algo que dá retorno, como ações e fundos imobiliários.”
Conjuntura
“A leitura que faço hoje é: a economia já está crescendo a 2% e vai terminar o ano que vem com um pouco mais que 2% anualizado. Este ano termina com crescimento de 1%. A forma como a gente calcula crescimento é uma média sobre média. Ano que vem vai ser por volta de 2,4% anualizado.
Não é um espetáculo, mas comparado com o cenário que prevaleceu até recentemente é muito bom. Só dá para crescer mais a partir de 2021, porque mesmo com os investimentos necessários em infraestrutura ainda demora 2 anos para aparecer o resultado. Tudo demora 2 anos. O que está acontecendo hoje é coisa do Michel Temer. Então, quando se vai crescer é a partir do ano que vem e em 2021. Não é o crescimento que todos nós queríamos, mas é melhor do que estava antes, de longe.
Na nossa visão, o que está acontecendo do lado econômico é muito melhor do que o que as pessoas estão percebendo.”
Governo
“O governo é inexperiente. Tem um processo de aprendizado. Tem uma série de coisas que são leis ordinárias, regulações, um placar de coisas muito grande a ser considerado. Roberto de Campos, do BC, está mandando ver no mercado de capitais. Sabemos que crédito no Brasil é difícil, é caro, tem o juro básico e mais o spread. O crédito é de curto prazo. o Campos está limpando tudo isso.”
BNDES
“Ideal seria fechar o BNDES. Seria melhor não existir. Mas como a gente tem muita coisa para limpar, o melhor seria o BNDES ajudar no processo de privatização e ajudar até um pouco estados e municípios a se revitalizarem, oferecendo consultoria técnica para projetos de infraestrutura”.
Economia mundial
“Muitos economistas acham que o ciclo de crescimento está longo demais e, portanto, terá recessão. Acho que não vai ter recessão mundial. Temos hoje estamos um processo de desaceleração localizado em setores que já estavam em crise. É o caso de manufaturados. Mas a economia global está mais focada em serviços e, nesse setor, o aumento de oferta está derrubando os preços. Um fenômeno que já víamos em produtos de bem de consumo, mas que agora chegou também nos serviços.
Além disso, os governos utilizarão estímulos fiscais para atenuar a desaceleração da economia. Estados podem aumentar a dívida porque o custo da rolagem da dívida é zero ou até negativo em alguns países. O juro baixo está mudando a noção do conservadorismo fiscal. Aumentar a dívida pública para evitar a recessão hoje está valendo em países onde o custo da rolagem da dívida é zero ou negativo.”
Crédito
“No Brasil, quem faz dívidas se sente um cidadão de segunda categoria. No Exterior, não. As pessoas tomam crédito para investir e consumir. Faz parte da vida cotidiana. Esse fenômeno vai ocorrer também no Brasil. O crédito se tornará acessível e fará com que as pessoas invistam mais e consumam mais.”