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ENTREVISTA | Thomas Lovejoy

agosto 30, 2019
em Entrevistas
Tempo de leitura: 6 mins
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O “exuberante privilégio” de abrigar a maior floresta de clima do planeta implica responsabilidades igualmente de abrangência planetária.

A expressão “privilégio exuberante” foi cunhada nos anos 1960 pelo francês Valery Giscard D’Estaing, quando ainda Ministro das Finanças da França, de que mais tarde seria primeiro-ministro e presidente. O termo ecoava uma noção prevalente em seu país, a de que os Estados Unidos desfrutam de um “exubérant privilège”, por serem os emitentes do dólar, preferido pelos demais países como reserva mundial e moeda na qual são, preferencialmente, feitas as transações comerciais entre as nações. Passaram-se décadas até que, como demonstra o economista americano Michael Pettis em seu novo livro “O Grande Reequilíbrio”, caiu a ficha de que ser o emissor da moeda de liquidez universal traz também enormes dores de cabeça, que ninguém vê, para os Estados Unidos. A Amazônia, nesse sentido, é o dólar do Brasil. Demorou mas caiu a ficha no governo em Brasília de que o “exuberante privilégio” de abrigar a maior floresta de clima do planeta implica responsabilidades igualmente de abrangência planetária.

Depois de duas semanas de troca de insultos entre os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro e da França, Emmanuel Macron, a questão da Amazônia começou a entrar nos trilhos da serenidade que o assunto exige. Brasília anunciou a moratória por 60 dias das queimadas na Amazônia. Dias antes, o governo Bolsonaro havia mobilizado as Forças Armadas para conter os focos mais agressivos de desmate e queima da floresta. Claramente, a reação positiva não reflete o convencimento mais íntimo de Bolsonaro quanto às necessidades de preservação de nossa exuberante cobertura vegetal tropical, um ecossistema de características e demandas únicas entre todos da Terra. Mas o fato de ter agido na prática e com o rigor esperado dele por todos os seres humanos com alguma consciência ecológica, é um excelente sinal emitido por Bolsonaro.

A Amazônia, como cantou Roberto Carlos nos anos 90, é mesmo a “insônia do mundo”. O destino da biodiversidade contida nas árvores, animais e rios amazônicos, agrade isso ou não ao presidente, é um patrimônio genético de toda a humanidade. Esse privilégio pode e deve ser usado a favor do Brasil em todos os fóruns internacionais. Não faltará ajuda de todos os países uma vez demonstrada a boa vontade do Brasil em ser o guardião de um tesouro tão valioso para a saúde atual e futura do planeta.

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Para lembrar nossos leitores das características únicas e insubstituíveis da Amazônia, Virtù entrevistou o biólogo americano Thomas Lovejoy, um dos cientistas que mais contribuíram em escala mundial para que a Amazônia fosse reconhecida como o patrimônio brasileiro de maior repercussão internacional. Lovejoy foi presidente do World Wildlife Fund (WWF) e hoje é professor da George Mason University. Apaixonado pela Amazônia, Lovejoy ajudou a educar gerações de brasileiros na valorização e preservação do nosso “exuberante privilégio”.

 

Pelo desmatamento zero na Amazônia

Virtù: Quando todos imaginávamos que a floresta amazônica estava, finalmente, sendo monitorada e protegida como se deve, ela volta a ser exposta ao desmatamento e às queimadas como se fosse um mato qualquer. O senhor se surpreendeu com esse novo surto de ataque à floresta?

Lovejoy: De certa forma, não. Aqui nos Estados Unidos as preocupações ambientais também estão sob a desconfiança e a hostilidade do poder central. Como há alguma semelhança de visão entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil nesse particular, me pareceu pouco provável que a Amazônia não sofresse.

Virtù: As razões para preservar a Amazônia que convenceram gerações de brasileiros de que nossa floresta tropical exige cuidados especiais parecem ter sido esquecidas. O senhor acredita que essas razões ainda são válidas?

Lovejoy: Sim. É uma tragédia o fato de que muita gente parece ter esquecidos essas razões. A riqueza da biodiversidade é uma delas. A floresta amazônica é um bioma único no planeta. Ela concentra uma gigantesca e insubstituível variedade de espécies animais e vegetais. Muitas dessas espécies são desconhecidas da ciência. É um absurdo permitir que sejam simplesmente incineradas. Imagine os seres vivos da bacia amazônica como livros de uma biblioteca genética em que a maioria dos volumes não foram lidos ainda. Não se toca fogo em uma biblioteca, muito menos ainda em uma cujos livros sequer foram abertos e que podem conter segredos preciosos para o tratamento de doenças crônicas e até mesmo sua cura.

Virtù: Não estão faltando iniciativas de cunho econômico que demonstrem de modo inequívoco que as árvores são muito mais valiosas em pé do que derrubadas e queimadas?

Lovejoy: Existem muitas maneiras de explorar os mais formidáveis recursos da floresta sem queimadas e desmatamentos. Uma das mais eficientes drogas para o tratamento da pressão alta em pacientes humanos fase originou do veneno de uma serpente da Amazônia. Esse é o caminho. Centenas de outras substâncias com potencial médico podem ser extraídas da mata e industrializadas sem qualquer agressão ambiental. Para descobri-las e selecioná-las é preciso, antes de mais nada, que o sistema seja preservado.

Virtù: O senso comum sugere que a floresta amazônica é vasta e conta com áreas de preservação obrigatória tão grandes que não passa de exagero catastrofista anunciar sua iminente destruição. Onde esse raciocínio é falho?

Lovejoy: Ele é falho à luz da realidade do sistema ambiental da Bacia Amazônica. O bioma da Amazônia não é apenas a soma das árvores, dos animais e dos rios. Décadas de estudos feitos pelos melhores cientistas brasileiros demonstram que a Amazônia precisa ser entendida como um sistema de integração complexa e enorme autodependência entre todos os seus componentes. Ainda nos anos 70, o cientista brasileiro Enéas Salati demonstrou que a Amazônia produz metade de toda a chuva que a mantém viva. O sistema amazônico recicla cinco a seis vezes as massas de ar úmido que chegam à bacia vindas do Oceano Atlântico. Nenhuma outra floresta de clima do planeta é mantida por mecanismos tão sensíveis. As outras florestas de clima recebem chuvas produzidas por fenômenos meteorológicos que independem diretamente da saúde do próprio bioma.

Virtù: Qual a consequência para a Amazônia dessa característica única?

Lovejoy: A principal é a de que a vida na Amazônia depende do ciclo hidrológico que ela mesma produz. É um sistema quase fechado, portanto. O corolário imediato dessa constatação é uma indagação que não sai da cabeça dos cientistas.

Virtù: Qual é essa indagação?

Lovejoy: Quanto de desmatamento seria necessário para fazer com que o ciclo hidrológico perdesse força a ponto de não conseguir mais produzir a chuva necessária para a vida dos ecossistemas da floresta tropical?

Virtù: Já existe a resposta para essa terrível indagação?

Lovejoy: Sim. E, infelizmente, esse ponto de não-retorno está sendo atingido na Amazônia. Estamos falando de uma situação que uma vez instalada não pode mais ser revertida, mesmo que todo o desmatamento seja reduzido a zero. Uma vez quebrado o ciclo hidrológico, o sensível mecanismo de manutenção do ecossistema amazônico entra em colapso e não pode mais ser recuperado por medidas de preservação.

Virtù: Mas qual a porcentagem de desmatamento necessária para interromper o ciclo hidrológico na Amazônia?

Lovejoy: O professor brasileiro Carlos Nobre e eu publicamos um artigo científico no começo do ano passado dando conta de que circunstâncias naturais e de intervenção humana nos levava a reavaliar drasticamente para baixo a porcentagem de desmatamento a partir da qual o ecossistema amazônico passaria do ponto de não-retorno, com consequências trágicas.

Virtù: Qual era a porcentagem original e para quanto ela foi depois da reavaliação feita por Carlos Nobre e o senhor?

Lovejoy: Acreditamos que sinergias negativas entre o desmatamento, a mudança climática global e a recorrência de queimadas na região indicam que o ponto de inflexão para o sistema amazônico caiu de 40% para alguma coisa entre 20% e 25%.

Virtù: Os dados mais confiáveis sobre a porcentagem já desmatada na Amazônia mostram que estamos perigosamente próximos do limite que vocês apontam como irreversível. Já é possível ver sinais do colapso?

Lovejoy: Nós acreditamos que o sistema está oscilando perigosamente e vem demonstrando isso a cada ano com sequências radicais de secas ( 2005, 2010 e 2015) intercaladas por inundações ( 2009, 2012 e 2014). Interpretamos essas oscilações como sinais evidentes de perigo iminente de que áreas da Amazônia, especialmente no leste, sul e centro, estejam a ponto de perder a condição de floresta de clima, se tornando vegetações típicas do cerrado.

Virtù: Ainda há esperança?

Lovejoy: Sempre há esperança. Nossa recomendação é a de que além de adotar o desmatamento zero na Amazônia, as autoridades comecem imediatamente programas agressivos de recomposição da cobertura vegetal mais parecida com a original possível, de modo a reverter a área desmatada para valores menores do que 20%. Só assim o ciclo hidrológico poderá se manter forte o bastante para sustentar o ecossistema florestal da região. Inaceitável seria deixar tudo como está e pagar para ver, na prática, qual é o real ponto de não-retorno para a Amazônia.

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