Bolsonaro mostrou outra vez sua desconfiança da classe política e perdeu nova oportunidade de escolher para o cargo um político que cultiva bom relacionamento com parlamentares de diversos partidos para ajudar a destravar o nó górdio do seu governo: a péssima articulação política.
Ao nomear o general Braga Netto para a Casa Civil, Bolsonaro delegou aos militares todos os postos-chave no Palácio do Planalto. A escolha retrata não só as preferências do presidente da República como também seus preconceitos e fraquezas.
Os generais no Palácio do Planalto são pessoas preparadas. Exerceram funções importantes de comando em missões nacionais e internacionais que testaram não só suas habilidades militares como também político-administrativa. Portanto, estão aptos a ocupar os cargos que lhes foram designados. Mas governar não é apenas uma questão técnica e operacional. Cada escolha do presidente emana um sinal para o País.
Bolsonaro desconfia da classe política
O sinal reflete os preconceitos de Bolsonaro com a classe política. Ao colocar um general na Casa Civil para lidar com questões eminentemente políticas, Bolsonaro retrata sua contumaz desconfiança da classe política e sua dificuldade de prestigiar partidos e políticos. Um presidente da República que teme a escolha de um político para Casa Civil porque suspeita que se ressuscite o nefasto balcão de negócios, dá claros sinais de que tem enorme dificuldade de conviver e prestigiar membros da classe política. Mas esse temor é infundado.
Oportunidade de articulação perdida
A escolha de um político sério, de reputação ilibada e que cultiva bom relacionamento com parlamentares de diversos partidos, poderia ajudar muito a destravar o nó górdio do governo Bolsonaro: a péssima articulação política. O ministro Rogério Marinho e a ex-senadora Ana Amélia (PP-RS) seriam dois candidatos mais aptos a ocupar a Casa Civil do que o general Braga Netto.
Aumenta distância entre governo e Congresso
A escolha de um general para a Casa Civil aumenta a distância entre Bolsonaro e os parlamentares e a animosidade entre o governo e o Congresso. Bolsonaro precisa aprender que é por meio da valorização da política que vamos aprovar as reformas e diminuir os atritos e as turbulências entre os Poderes Legislativo e Executivo. O presidente perdeu uma ótima chance para fazer uma escolha política capaz de melhorar a relação do governo com o Congresso num momento crucial para o andamento das reformas administrativa e tributária e a votação da PEC Emergencial.