Levou tempo para o PT perceber que Lula não mais mobilizaria o povo em torno da sua liderança e o PT não recuperaria seu papel de unir a esquerda.
A esquerda começa a se abrir para o realismo político. As duas ilusões que nutriam o sonho do PT nos tempos de cárcere de Lula se desfizeram abruptamente. A primeira era o poder do discurso “Lula Livre”; uma espécie de mantra que uniu a esquerda e cultivou a esperança de que, uma vez solto, Lula mobilizaria o povo em torno da sua liderança e o PT recuperaria o seu protagonismo político como o polo aglutinador da esquerda. A segunda ilusão era a ideia de que o PT precisava se voltar para a esquerda para unir a militância e se apresentar como o legítimo contraponto ao governo Bolsonaro. O discurso de Lula ao sair da cadeia indicava a aposta do PT na volta dos velhos clichês da esquerda e na polarização com Bolsonaro para recuperar o espaço político perdido.
Ilusão 1: Popularidade intacta
A primeira ilusão foi desfeita com a primeira iniciativa de Lula ressuscitar a sua caravana pelo Brasil. Lula escolheu um reduto petista no Nordeste para iniciar a sua peregrinação política, mas, para a sua surpresa, foi recebido com vaias em alguns lugares. O líder político “mais popular do Brasil” não pode mais sair às ruas ou pegar um voo comercial sem ser hostilizado pelas pessoas. O Brasil mudou. Os brasileiros estão indignados com a corrupção e Lula e o PT representam o governo corrupto desvendado pela Lava Jato.
Ilusão 2: Unir a esquerda
A segunda ilusão – a capacidade de unir a esquerda – foi desfeita por dois fatores. Primeiro, porque o PT descobriu que não haverá união da esquerda enquanto o partido insistir na ideia fixa de que ele vai liderar a aliança e os outros partidos terão um papel meramente de coadjuvante. O PT ainda está preso ao passado e não compreendeu a dinâmica do novo Brasil. A dramática situação das finanças públicas nos estados e municípios e a insatisfação da população com a péssima qualidade do serviço público, levou governantes da direita e da esquerda a compreenderem que a boa gestão pública exige mais pragmatismo e menos ideologia. É preciso cortar gastos públicos, privatizar empresas estatais e focar esforços na melhoria da qualidade do serviço público. Se fugirem dessa agenda, não contarão com o apoio da população e tampouco com os votos dos eleitores.
Gestores públicos pragmáticos
Governadores como Rui Costa, da Bahia, e Flavio Dino, do Maranhão fazem parte dessa geração de gestores públicos pragmáticos que vêm pregando a necessidade da esquerda se reinventar, rever o discurso e as prioridades para voltar a se conectar com os eleitores e se tornar competitiva nas próximas eleições. Esses governantes compreenderam que o novo Brasil quer mais resultado e menos demagogia, mais pragmatismo e menos ideologia, mais conciliação e entendimento e menos polarização. Essa nova esquerda tem mais o DNA de um Tony Blair – primeiro ministro trabalhista que governou o Reino Unido por uma década (1997-2007) – do que de Lula. Assim como Tony Blair, querem ocupar o nicho de centro-esquerda e conquistar os eleitores com um projeto eleitoral factível e capaz de reconhecer os méritos e defeitos dos governos do presente e do passado.