Estudo do ‘Our World in Data’ permite comparar o quanto cada país conseguiu preservar a economia e combater a pandemia. Embora os dados sejam exatos e recentes, as conclusões não são cristalinas. De modo geral, saíram-se melhor países que souberam manter as pessoas em casa e implantaram políticas públicas compensatórias.
A pandemia de Covid-19 nos pegou, a todos, desprevenidos. A começar pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Como generais sempre prontos para lutar a última guerra, tendo vencida a epidemia passada, os especialistas da OMS foram pegos de calças na mão quando chegou a Covid-19. A OMS sempre esteve um movimento atrás do minúsculo inimigo. Os governos nem se fala.
Ainda é cedo para uma avaliação criteriosa sobre as estratégias adotadas pelos governos em cada país — até porque elas foram mudando no decorrer da pandemia. Tome-se o exemplo da Suécia. O governo sueco se destacou no cenário mundial por ter, inicialmente, ignorado os perigos da doença transmitida pelo coronavírus, mantendo as atividades econômicas a pleno vapor. Pareceu estar trocando um PIB maior pela perda de vidas que podiam ser salvas.
Eis que a Suécia, porém, assustou-se e decidiu fechar tudo de repente, adotando medidas mais draconianas do que países sem tradição democrática. Agora, em uma nova reviravolta, o governo de Estocolmo acaba de permitir a reabertura das repartições públicas, lojas e escolas — e nem mais exige de seus cidadãos que usem máscaras protetoras em locais públicos.
No que resultou a dança dos suecos com o perigo? A Suécia tinha em 30 de agosto passado, 575 mortos pela Covid-19 por milhão de habitantes para uma queda no PIB de 8,3%, preço da desaceleração econômica provocada pelos períodos em que as lojas permaneceram fechadas. Que julgamento fazer da Suécia? Difícil, em bom juízo e de boa fé, condenar as manobras do governo sueco para enfrentar a pandemia. Cada país tem suas realidades próprias, seus cacoetes culturais e impedimentos políticos.
Quando, porém, se compara a tragédia humana da Covid-19 na Suécia com as perdas provocadas pela doença em um país vizinho e de mesmo estágio civilizatório, a Dinamarca, as diferenças afloram. A Dinamarca, que se fechou completamente no começo da pandemia, tinha em 30 de agosto, 107 mortos por milhão de habitantes, para uma queda de 8,5% no PIB. Resulta dessa comparando, em termos duros, que a Suécia “deixou morrer” cinco vezes mais pessoas do que a Dinamarca em troca de míseros 0,2% a mais de PIB.
Um estudo do ‘Our World in Data’ a que o Virtù teve acesso permite, justamente, fazer a comparação de países quando se examina o quanto cada um conseguiu ao mesmo tempo preservar a economia e combater a pandemia. Embora os dados sejam exatos e recentes, as conclusões não são cristalinas.
De modo geral, a conclusão mais útil é a de que no caso da Covid-19, saíram-se melhor os países que souberam equilibrar-se entre as necessidades de manter as pessoas em casa, proibindo aglomerações, e, ao mesmo tempo, implantaram políticas públicas compensatórias, mantendo um mínimo de liquidez e dinheiro em circulação. Com 867 mortos por milhão de habitantes e uma queda de 30% no PIB, o Peru figura como exemplo extremo do fracasso. Taiwan teve apenas 0,29 mortos por milhão de habitantes e uma ligeira queda de 0,6% no PIB. Com esses números, a pequena Ilha de Formosa, que sequer pertence à OMS, figura como o país que melhor saiu-se do encalacramento proposto pelo surgimento do novo coronavírus.
E o Brasil? O estudo não contempla o Brasil, mas Virtù plotou nossa situação no gráfico do ‘Our World in Data’. Com 522 de mortos por milhão e 9,7% de queda no PIB, o Brasil fica na mesma linha de desempenho econômico dos Estados Unidos (PIB de -9,7%) e um pouco pior do que os norte-americanos na saúde. Nos EUA, 552 pessoas morreram de Covid-19 por milhão de habitantes. O que isso revela? Difícil chegar a uma conclusão desapaixonada, mas não nos pode escapar a constatação que, tanto lá quanto, cá presidentes da República populistas foram lenientes com a pandemia. Por se apresentarem ao eleitorado como machos-alfa, Bolsonaro e Trump assumiram a postura temerária de que se tratava de “gripezinha”.
Pode-se argumentar que apesar da atitude estúpida de seus chefes-de-estado, tanto no Brasil e quanto nos Estados Unidos, as máquinas governamentais trataram de ignorar seus líderes e foram à luta contra a pandemia e seus efeitos devastadores sobre a economia.
Fica em aberto a dúvida sobre em que os números da crise da saúde e da economia teriam sido diferentes no Brasil e nos Estados Unidos se Bolsonaro e Trump fossem políticos moderados e racionais no enfrentamento de crises nacionais.