A crise do coronavírus testa tanto a capacidade de adaptação da sociedade a novos hábitos, quanto a capacidade técnica do governo de assegurar a proteção à vida e a implementação das medidas necessárias para atravessar a pandemia. Navegar por mares desconhecidos demanda instituições fortes, engajamento da sociedade civil e governo em torno da resolução de problemas, experimentação e gestão eficiente. Líderes populistas serão naturalmente isolados. Isso é democracia. No último mês, o Brasil amadureceu mais como sociedade do que nos últimos 20 anos.
Liderar em tempo de crise é como dirigir carro na lama. Você tem de fazer coisas contra intuitivas. Para salvar o emprego, a renda e as pequenas e médias empresas, o governo terá de tomar medidas heterodoxas e contra suas próprias crenças – como aumentar o gasto público, distribuir recursos para salvaguardar pessoas e empresas do aperto financeiro de uma crise sem precedentes.
Experimentação e gestão eficiente
Ao navegar num mundo desconhecido de paralisia econômica, política e social que jamais enfrentamos, será necessário combinar experimentação e gestão eficiente. Essa combinação é vital para expandir as possibilidades existentes. O exercício de errar, corrigir e acertar é fundamental para o desabrochar de novas ideias, políticas e atitudes que são vitais para a preservação da paz e da ordem econômica, política e social. A crise do coronavírus já está testando a nossa capacidade de nos adaptarmos às restrições impostas pela quarentena que nos obrigam a mudarmos hábitos e comportamento. Também testará a capacidade técnica dos governos federal, estaduais e municipais de assegurar funcionamento dos hospitais, o abastecimento das cidades, e a implementação das medidas econômicas e sociais para conter a crise.
Guerra interna no governo
Enquanto os parlamentares, governadores e prefeitos se empenham em reunir esforços para combater a crise, o governo federal está lutando uma guerra interna. De um lado, a ala do bom senso, liderada pelos ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da Economia, Paulo Guedes; do outro, um presidente da República impulsivo e errático que continua a negar a realidade preocupante da crise do coronavírus. Desrespeita a quarentena, contradiz as decisões do próprio governo, desqualifica as diretrizes do ministro da Saúde. Num momento de união nacional, o presidente brigou com todos os governadores. Num instante de apreensão, medo e insegurança dos brasileiros, Bolsonaro acirra as divisões e insufla a polarização.
Brasil vive duas guerras: o coronavírus e um presidente desgovernado
Além de lutar contra o coronavírus, o Brasil é obrigado a enfrentar outro desafio adaptativo: como evitar que um presidente desgovernado destrua o País. Felizmente, a sociedade brasileira dá mostras de que o Brasil pode caminhar no rumo certo, a despeito do presidente. A união cívica da sociedade, do setor público e privado e a ala do bom senso do governo federal criaram pontes e canais para cooperar com ideias, recursos e mão de obra para tomar as providências emergenciais e evitar o agravamento da crise.
Pela primeira vez, estamos cientes de que a democracia não é obra de líderes populistas, mas de instituições fortes e do engajamento cívico da sociedade civil e governo em torno da resolução de problemas. Em três semanas, amadurecemos mais como sociedade do que nos últimos 20 anos. Aprendemos que o destino da nação está em nossas mãos e nas nossas escolhas. As atitudes irresponsáveis do presidente são freadas no Legislativo, no Judiciário e agora também pelas redes sociais começaram a barrar as mensagens perigosas do presidente que desinformam e dividem a população. Esses sinais indicam que a democracia brasileira sairá mais forte da crise e provavelmente se livrará de outro vírus: o populismo.