Sem estratégia que traga celeridade e priorize a aprovação de reformas estruturais para reequilibrar as contas públicas, o Brasil mergulhará em nova crise econômica e social. Os sinais já são claros. O Governo, entorpecido com aumento de sua popularidade, deixa o cenário ainda mais desafiador.
Escolha a metáfora que considerar mais apropriada: piquenique à beira do vulcão ou samba às margens do penhasco. O fato é que, sem um plano para acelerar a aprovação de reformas e reequilibrar as contas públicas, o Brasil tem encontro marcado com uma nova crise econômica e social. Seria algo trágico em qualquer contexto. Para um país já combalido por uma década de retração no PIB e retrocesso nos indicadores sociais, os efeitos serão ainda mais deletérios.
A falta de urgência do governo, entorpecido com o súbito aumento de sua popularidade, deixa o cenário mais complexo e desafiador. Os riscos vão se avolumando, mas são poucas as pessoas que têm consciência disso. São ameaças latentes que já se fazem notar, mas que, se nada for feito, vão aflorar com toda a força muito em breve.
Um sintoma da falta de confiança brasileira está na cotação do dólar. Estimativas de economistas indicam que, não fosse o alto grau de incerteza e a desconfiança com relação ao governo, o preço do dólar poderia ser R$ 1 mais barato. A cotação, atualmente próxima de atingir os R$ 6, poderia estar abaixo de R$ 5.
A crescente dívida pública
A preocupação número 1 dos investidores está na situação das contas públicas. O governo pouco ou nada faz para estancar os rombos fiscais. A dívida pública federal superou R$ 4,4 trilhões. Em pouco tempo, o endividamento público total vai atingir 100% do PIB, algo sem paralelos entre as economias em desenvolvimento. De acordo com as projeções mais recentes divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida média dos países emergentes é de 64%.
O pior de tudo: não se sabe como o governo pretende reverter a situação. Na verdade, ninguém tem a mínima ideia, nem mesmo o Ministério da Fazenda. Assim, o Brasil, ao lado da combalida Turquia, tem a moeda que mais perdeu valor em 2020.
Os números são impressionantes. O rombo orçamentário ficou em R$ 300 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses. Desde 2014, o País não registra superávits primários (conta que não inclui as despesas com os juros da dívida). Quando as contas voltarão ao azul? O Tesouro estima que apenas em 2023 – e isso, claro, se não houver surpresas negativas até lá.
A dívida crescente empurra para cima os juros no mercado futuro. Como se pode ver no gráfico abaixo, apesar de a taxa básica (Selic) estar em um nível historicamente baixo, de 2% ao ano, as taxas de mercado estão em alta e já passam de 8% para os títulos com vencimento em 2030. Isso significa que o custo do capital para o financiamento de investimentos produtivos tenderá a ficar mais alto, inibindo o crescimento do PIB.
O desequilíbrio fiscal e o aumento do dólar exercem impacto também sobre a inflação. Mais uma vez, trata-se de um fato que inibe o crescimento econômico.
Há quem ache que tudo isso não passe de terrorismo do mercado financeiro. Antes fosse. O Brasil já tem sofrido – e muito – com a crise de credibilidade. O desemprego, que ficou encoberto pelo auxílio emergencial, começou a crescer com força e atinge 14% dos trabalhadores. A taxa subirá ainda mais, com a reabertura da economia e aumento do número de pessoas procurar uma vaga.
O Brasil, para usar outra metáfora surrada, está sentado sobre um barril de pólvora. Ainda há tempo para evitar o pior. O grande risco é o governo, em nome de sua popularidade, apostar no populismo rasteiro e não agir tempestivamente. Foi mais o que fez Dilma Rousseff. As consequências são conhecidas.