A agricultura brasileira é preservacionista. O resto são retóricas que distorcem os fatos e a realidade com discursos que não colaboram para a união de ambientalistas, agricultores e governantes.
Desde 1990, o Brasil deixou de ser importador de alimentos para se tornar um dos principais exportadores. Essa extraordinária transformação retrata o ganho exponencial de produtividade da agricultura brasileira. Dados da Embrapa mostram que o Brasil tornou-se um dos maiores produtores de grãos do mundo. Mais de 1 bilhão de pessoas são alimentadas com produtos agrícolas brasileiros. Esses dados são ainda mais impressionantes quando descobrimos que a produção de grãos no país está limitada a 7,8% do território brasileiro. Somente as reservas indígenas no país ocupam 14% das terras brasileiras, ou seja, o dobro das áreas cultivadas. Nenhum país do mundo trata com tanta generosidade sua população nativa. Se compararmos com outro país de grande dimensão territorial, os Estados Unidos, a área produção de grãos representa 17,4% do território norte-americano e terras indígenas, 2,3%. Mesmo assim, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos na exportação de soja em 2018. Impressionante.
A politização do debate sobre preservação ambiental versus produtividade agrícola é dominado por bravatas ideológicas e defesa de interesses setoriais, ignorando os fatos e dados – que deveriam balizar as discussões, debates e políticas públicas. Portanto vamos aos fatos.
O Brasil é líder mundial em preservação ambiental
Qual o maior país que mais zela pela preservação ambiental do seu território? Brasil. Sim, somos nós. O livro essencial para se conhecer os dados é Tons de Verde, de Evaristo Miranda, da Embrapa.
De acordo com os estudos dessa instituição, o Brasil preserva 66% do seu território, incluindo aí as unidades de conservação, terras indígenas, áreas rurais de vegetação nativa dedicadas à preservação, terras devolutas e áreas militares. Nos Estados Unidos, outro país de grande dimensão territorial, as terras protegidas somam apenas 20% do território.
Uso e ocupação do solo
Outra comparação com os Estados Unidos detalha o uso e ocupação do solo. No Brasil, a fatia das terras dedicadas à exploração é sempre inferior à fatia dedicada nos EUA. A área agrícola norte-americana ocupa 74% do território, incluindo lavouras, pastagens e florestas plantadas e exploradas. No Brasil, a ocupação de atividades agropecuária representam apenas 30% do território (7,8% lavouras e 21,2% pastagens).
O agricultor brasileiro preserva a vegetação nativa
Qual é o produtor agrícola que mais preserva o meio ambiente no mundo? O produtor brasileiro. As áreas de preservação ambiental sob responsabilidade dos fazendeiros representam 25,6% do território nacional.
O agricultor brasileiro preserva mais do que exige a legislação atual do Código Florestal: o mínimo de 20% do imóvel na maioria do País, e o máximo de 80% nos estados da Amazônia, como mostra o mapa abaixo. Além de gastar em torno de R$ 20 bilhões/ano para preservar essas áreas, elas representam em torno de R$ 3 trilhões de capital imobilizado.
A agricultura é a grande muralha do protecionismo
Por trás da discussão sobre preservação ambiental e produtividade agrícola está uma disputa acirrada por um mercado global que deve crescer mais de 40 bilhões de dólares nos próximos anos. Trata-se do mercado de alimentos, cujo aumento do consumo de grãos e de proteína animal cresce substancialmente com o aumento de riqueza e da renda per capita na Ásia e em alguns países na África.
Infelizmente, a agricultura representa a grande muralha do protecionismo no mundo. Estados Unidos e Europa, Ásia, África e América Latina gastam trilhões de dólares anualmente protegendo sua agricultura e criam inúmeras barreiras comerciais, tarifárias e sanitárias para barrar o comércio de grãos e de proteína animal. O discurso ambiental se transformou em mais um elemento da guerra comercial pelo mercado agropecuário global. Os fatos e dados são substituídos por um debate recheado de chavões ideológicos, mitos e falsas narrativas para ocultar os reais interesses: evitar que o Brasil conquiste boa parte desse mercado com sua agricultura competitiva globalmente.
Agricultura que preserva é realidade no Brasil
O debate sobre a preservação do meio ambiente é fundamental para a nossa sobrevivência no planeta. O crescimento sustentável precisa ser pautado pela preservação da água, do solo e do clima. Agricultura e preservação do meio ambiente são dois lados da mesma moeda; um pode ajudar o outro na reconstrução da fauna e da flora, como já é o caso das agroflorestas. A falsa ideia de que são interesses antagônicos não passa de retórica ideológica para alimentar discursos político-partidários, protecionismo agrícola, financiamento de algumas ONGs ambientais e de órgãos multilaterais que ignoram dados e fatos, distorcem as evidências e camuflam a realidade com discursos alarmistas que nada colaboram para a união de ambientalistas, agricultores e governantes na busca de reais soluções para problemas prementes que afetam a todas as nações.