Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, não acredita em risco de ruptura institucional, mas vê alta possibilidade de conflitos inflados pela radicalização. E afirma: “O maior cabo eleitoral do Lula é o presidente, e vice-versa”.
“O fanatismo sempre acaba em violência”, afirma o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, do alto de toda a sua experiência lidando com situações de conflito. Ex-comandante das forças de paz da ONU no Haiti e no Congo, em 2017, foi nomeado secretário de Segurança Nacional do Ministério da Justiça, tendo como principal missão combater a crise na segurança pública no Rio de Janeiro.
No início de 2019, assumiu a Secretaria de Governo, mas ficou pouco mais de seis meses no cargo. Deixou o ministério desiludido com o presidente Jair Bolsonaro. Desde então, tem sido uma voz influente na oposição. Participa, inclusive, de articulações políticas em torno da criação de uma candidatura alternativa de centro, contra Lula e Bolsonaro.
Na conversa com Virtù, Santos Cruz diz que há excesso de militares no governo e isso não tem sido positivo para as próprias Forças Armadas. “É um governo que não se caracteriza pelo equilíbrio, pelo diálogo”, afirma o general. “Não se caracteriza pela educação e por ser razoável. Esse extremismo não deixa a sociedade descansar. Mesmo depois das eleições, o País não encontrou harmonia e a boa convivência política”.
Segundo Santos Cruz, existe um grupo pequeno, mas influente, que é muito próximo ao presidente e se comporta como uma “seita”. A radicalização, argumenta, impede a distensão política e inviabiliza as reformas necessárias. O general não acredita no risco de uma ruptura institucional, mas vê chances elevadas de ocorrência de conflitos localizados. “Fanatismo sempre leva à violência”, enfatiza.
Para Santos Cruz, a polarização só interessa aos extremos: “O maior cabo eleitoral do Lula é o presidente, e vice-versa. A sociedade não precisa desse retrocesso”. Em sua avaliação, são irresponsáveis as contestações do voto eletrônico e suas ameaças de não deixar o poder. Mas afirma: “Todo esse discurso é um grande blefe”.