Cientista político e especialista em sistemas eleitorais, George Avelino analisa a importância do voto eletrônico na consolidação da democracia brasileira e os riscos do voto impresso. Na conversa, explica também por que o “distritão” seria uma marcha à ré na reforma política
O Brasil, com o voto eletrônico, conseguiu ter um sistema de apuração rápido e confiável. Milhões de pessoas com baixa escolaridade tiveram acesso ao processo de escolha de representantes políticos. Houve mais legitimidade nas eleições. Para o cientista político George Avelino, professor da Fundação Getúlio Vargas e especialista em sistemas eleitorais, a volta do voto impresso, ainda que feito de maneira complementar ao atual sistema eletrônico, traria retrocessos como o “voto de cabresto”. Isso porque os eleitores poderiam ser coagidos a mostrar a quem deram seus votos. “A gente volta ao período do clientelismo. Eu te dou um benefício se votar em mim, se comprovar em mim”, afirma.
De acordo com Avelino, é improvável que o voto impresso seja aprovado pelo Congresso. Mas acredita que será necessário dar mais transparência ao sistema de votação para torná-lo mais inteligível ao eleitor. “É preciso reduzir a opacidade do sistema eleitoral”, afirma. Em sua avaliação, enquanto o eleitor não entender melhor como funciona o processo de votação, sempre haverá margem para oportunistas lançarem suspeitas. Para ele, na votação as pessoas deveriam votar primeiro do partido e depois no candidato. “Hoje votamos tudo junto, dá a impressão de ser uma eleição majoritária, e não proporcional”.
A discussão sobre a segurança do voto eletrônico, avalia, é no fundo política, e não técnica, como querem fazer crer os defensores do voto impresso. “O presidente Bolsonaro, se fosse coerente naquilo que ele fala, a primeira atitude dele seria renunciar ao seu mandato — que foi fraudulento — e pedir uma eleição com voto impresso e eleger um presidente legítimo, segundo a visão dele”, diz Avelino.
Sobre a proposta do “distritão”, diz que beneficiaria sobretudo candidatos de partidos pequenos com dificuldades para superar as cláusulas de barreiras. Avelino acha improvável que o Congresso aprove esse sistema de votação. Melhor que assim seja, porque, graças às reformas de 2017, com o fim das coligações na votação proporcional e as cláusulas de barreira, foram criados incentivos para diminuir o número de partidos com representação no Congresso.