Virtù conversa com Gesner Oliveira e Artur Villela Ferreira sobre mitos e oportunidades que se apresentam ao País para que o Brasil assuma seu lugar de liderança mundial como potência verde. Para ambos, a elaboração de um plano nacional de desenvolvimento sustentável é, antes de tudo, um processo que demanda transparência, protagonismo e envolvimento de toda sociedade.
Virtù entrevista Gesner Oliveira e Artur Villela Ferreira, autores do livro “Nem Negacionismo Nem Apocalipse — Economia do Meio Ambiente: Uma Perspectiva Brasileira” . O economista Gesner Oliveira, ex-presidente da Sabesp, é professor da FGV e coordena o Centro de Estudos de Infraestrutura e Soluções Ambientais. Artur Villela Ferreira foi um de seus alunos e é sócio-fundador da empresa Global Forest Bond.
No livro, os autores apresentam como conceitos da economia se relacionam com questões ambientais. Eles analisam tendências em áreas como fontes energéticas, transporte, indústria e urbanização.
Trazendo o debate para o Brasil, o livro aponta caminhos pragmáticos para o País assumir um papel de protagonista como potência ambiental, fugindo de armadilhas comuns ao terreno pouco fértil quando o debate fica polarizado entre os apocalípticos e os negacionistas.
00:13 Soberania e bem comum da Amazônia
02:39 Assertividade da legislação e transparência com a sociedade
04:16 Mito: Desenvolvimento implica desmatamento
05:45 O viés do status quo
08:32 Projeto nacional de desenvolvimento sustentável
O País, argumentam os autores, teria tudo a ganhar se tivesse metas mais ambiciosas de combate ao desmatamento e de neutralização do carbono. Se isso ocorresse, a “marca Brasil” teria maior valor agregado, porque há consumidores dispostos a pagar mais por soja, carne e outras mercadorias sem pegada de carbono.
“Em mais de 500 anos de história, sempre tivemos atividades econômicas que foram hostis ao meio ambiente”, afirma Oliveira. “Precisamos de um projeto que aproveite nossa vantagem comparativa na bioeconomia e monetize a conservação.” Completa Ferreira: “Existe uma forte demanda pela conservação. “Precisamos buscar as melhores maneiras de aproveitar esse interesse internacional em benefício do País”, afirma.
No livro, os autores listam sete dos maiores mitos da economia ambiental. O maior deles, como afirmam na entrevista, é o de que o desmatamento é necessário ao desenvolvimento. Os outros seis mitos são os seguintes: os transgênicos são prejudiciais à saúde; o plástico e a mineração são os grandes vilões ambientais do século XXI; a reciclagem vai resolver o problema de resíduos do Brasil; a consciência sobre o problema ambiental fará as pessoas mudarem seus hábitos drasticamente; casas dispersas com grandes áreas verdes são sustentáveis; e, por fim, usar madeira contribui para a crise ambiental.
Entre as propostas para destravar o potencial verde do País, os autores falam de iniciativas como o combate à grilagem e à ilegalidade, a universalização do saneamento básico e investimento tecnológico na bioeconomia.
A ilegalidade, argumentam, é a grande trava ao desenvolvimento sustentável na Amazônia, porque madeireiros e fazendeiros que operam de maneira irregular representam uma concorrência desleal àqueles que procuram realizar as melhores práticas. Mas há uma barreira política a ser superada para romper o ciclo da ilegalidade e da impunidade: há grupos organizados e influentes que lucram com a atual situação. No fim, alguns poucos ganham muito enquanto o Brasil, como um todo, perde muito mais. Estima-se que, apenas com o mercado de carbono, a economia brasileira poderá faturar US$ 10 bilhões ao ano.
Para Gesner Oliveira, é preciso aprimorar e simplificar as regras ambientais, porque a dificuldade de cumpri-las não pode ser usada como escusa por aqueles que operam na ilegalidade. “Precisamos acabar com a ‘burrocracia’ que dá munição aos negacionistas.”