Iniciativas do setor público e privado têm ajudado a manter no País brasileiros com alta formação.
Os efeitos de um longo período com baixo crescimento são visíveis. Fechamento de empresas, taxa de desemprego ainda alta e paralisia nos negócios são apenas alguns indicadores do tamanho do desafio que o Brasil tem pela frente. Mas existe um outro, mais silencioso, e que costuma se transformar em um gargalo para o desenvolvimento: a chamada “fuga de cérebros”. Sem oportunidade por aqui, muitos brasileiros com alta formação migraram nos últimos anos para países em busca de oportunidade. É o tipo de mão-obra qualificada que faltará por aqui quando o setor público e privado finalmente retomarem os investimentos.
A grave saída de brasileiros do País
Dados do Departamento de Estado americano mostram, por exemplo, que somente no no ano passado cerca de 4,3 mil brasileiros conseguiram vistos para morar nos EUA. O número é 74% superior ao registrado, em 2015, quando foram concedidos 2.478 vistos. O aumento coincide com o período mais acentuado da crise brasileira. Uma estimativa da JBJ Partners, empresa especializada em expatriação, mostrou que, nos últimos quatro anos, a migração de brasileiros com formação superior ou pós-graduação para os Estados Unidos passou de 83% do total para 93%. Na Receita Federal, também é crescente o número de declarações de saída definitiva do país. Entre 2011 e 2018, o aumento foi de 183%.
As ilhas de excelência no Brasil
Embora o cenário não seja dos melhores e a capacidade de reter talentos ainda seja baixa no Brasil, existem “ilhas de excelência” por aqui. Elas têm conseguido reter de algum modo o capital humano com alta formação, estimulando a pesquisa e a inovação. Rio de Janeiro, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo são alguns dos estados com iniciativas do setor privado ou público-privado para o desenvolvimento de pesquisas e inovação na área da engenharia, matemática, física e computação.
Certi e Cubo
Criada há 35 anos, a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi) realiza pesquisa tecnológica aplicada e hoje é referência no Brasil e no exterior. Por lá, já foram realizadas ou estão em andamento pesquisas aplicadas e inovação com empresas como Philips, IBM, Fiat, LG, Samsung entre outras. O modelo de gestão é uma das vantagens do Certi, uma organização de direito privado, mas sem fins lucrativos e com autonomia administrativa e financeira.
É com base nesse modelo que o Centro tem conseguido maior maior flexibilidade na assinatura de contratos e busca de recursos. Tudo é administrado por um conselho fiscal. As soluções da Certi na forma de projetos com parceiros e empresas representou, por exemplo, 84% das receitas operacionais da fundação em 2018. Cerca de 44% dos projetos contratados no ano passado foram incentivados pelo setor privado, e 16% do setor público. Outros 33% foram fomentados por empresas.
Em São Paulo, o Itaú e o fundo Redpoint eVentures criaram em 2015 o Cubo, um centro empreendedorismo tecnológico. Atualmente já são mais de 300 startups cadastradas. O Bradesco também lançou o seu espaço, o InovaBra, em São Paulo, com o objetivo de também estimular a inovação.
IMPA e Coppe
No Rio de Janeiro, os centros de excelência mais conhecidos são o Instituto Matemática Pura Aplicada (IMPA), criado 1952, e a Coppe/UFRJ, inaugurada em 1963. A Coppe é considerada o principal centro de excelência da engenharia no Brasil, com mais de cem instalações de alto nível. Contratos e convênios entre a Coppe, empresas, governos e entidades não governamentais têm ajudado a instituição a desenvolver pesquisa na área da engenharia. Desde 1970, já foram mais de 12 mil contratos.
O IMPA, por sua vez, foi a primeira unidade de pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Hoje é uma das instituições mais respeitadas da ciência brasileira e um dos centros mais reconhecidos de pesquisa matemática no mundo. O IMPA é uma Organização Social desde 2001, o que lhe dá maior flexibilidade para contratar pesquisadores em todo mundo. Um concurso recente do instituto teve, por exemplo, 42 candidatos de 27 países. Artur Avila, medalha Fields (Nobel da matemática), foi formado no IMPA. É o único caso de matemático ganhador da Fields formado integralmente em país em desenvolvimento.
Porto Digital
O Porto Digital, em Recife, é um dos principais parques tecnológicos e ambientes de inovação do país. Fruto e referência nacional de uma ação coordenada entre governo, academia e empresas, o Porto é conhecido como modelo “Triple Helix”. Ele foi criado no ano 2000 e, desde então, é um dos eixos de produção de software e serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Economia Criativa com ênfase nos segmentos de games, cine-vídeo-animação, música, fotografia e design.
Desde 2015, o Porto Digital passou também a atuar no setor de tecnologias urbanas como área estratégica. Já são 600 PHDs em ciência da computação trabalhando 328 empresas instaladas no Porto. O conjunto das empresas que fazem parte do Porto Digital faturou em 2017, aproximadamente, R$ 1,7 bilhão. O parque tecnológico hoje reúne mais de 9.000 profissionais altamente qualificados, sendo 800 deles empreendedores.