País terá o menor crescimento do PIB entre as principais economias do mundo. Resultado desalentador da incompetência do governo está no retrocesso social, visível nas estatísticas e nas ruas de todo o País
As projeções que acabam de ser divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) evidenciam como a economia brasileira ficou na contramão do mundo. Enquanto a grande maioria dos países exibe uma retomada pós-pandemia, o Brasil deverá crescer apenas 1,5% em 2022. É uma taxa medíocre, inferior à de todas as principais economias globais.
Depois de uma contração em 2020, o PIB mundial deverá avançar 5,9% em 2021 e 4,9% em 2022, estima o FMI. Nos países desenvolvidos, o crescimento médio esperado para 2022 é de 4,5%, e nas nações em desenvolvimento, onde se inclui o Brasil, a taxa esperada é de 5,1%. Os números demonstram como a economia brasileira continua a perder terreno na economia mundial. Foi assim antes da pandemia e continuará assim nos próximos anos se nada for feito.
IMF Projections: 2022
USA🇺🇸: 5.2%
Germany🇩🇪: 4.6%
France🇫🇷: 3.9%
Italy🇮🇹: 4.2%
Spain🇪🇸: 6.4%
Japan🇯🇵: 3.2%
UK🇬🇧: 5%
Canada🇨🇦: 4.9%
China🇨🇳: 5.6%
India🇮🇳: 8.5%
Russia🇷🇺: 2.9%
Brazil🇧🇷: 1.5%
Mexico🇲🇽: 4%
KSA🇸🇦: 4.8%
Nigeria🇳🇬: 2.7%
S. Africa🇿🇦: 2.2%https://t.co/j0FIiCr9li #WEO pic.twitter.com/SLNNQqHyt1— IMF (@IMFNews) October 12, 2021
A comparação internacional evidencia que é falaciosa a desculpa governista de que a crise interna deriva de uma conjuntura externa adversa. Há sim dificuldades que vêm de fora, como a falta de componentes industriais e o aumento no preço das commodities. Mas o impacto desses fatores tem sido bem mais modesto nos outros países, tirando uma ou outra exceção.
O Brasil do governo Jair Bolsonaro, infelizmente, tem se alinhado ao time das exceções negativas. A inflação subiu em todo o mundo, como diz o ministro Paulo Guedes? É verdade, mas em pouquíssimos países a taxa média de reajustes nos preços superou os 10% ao ano, como ocorreu no Brasil. Entre as principais economias mundiais, apenas a Turquia e a Argentina (que, aliás, anunciou um novo congelamento de preços) têm inflação maior que a brasileira neste momento. A inflação mundial deverá encerrar o ano em 3,7%, de acordo com o FMI. No Brasil, a taxa deverá ficar ao redor de 9%.
No relatório “Brazil: Sustaining a Strong Recovery”, divulgado no dia 23 de setembro, os técnicos do FMI apontam quatro questões prioritárias para acelerar a recuperação na economia:
- Baixo crescimento potencial: é necessário aprovar reformas estruturantes para aprimorar o ambiente de negócios e produtividade.
- Inflação: a taxa de juros terá de subir para ancorar as expectativas e evitar o descontrole inflacionário.
- Pobreza e desemprego: o País precisa reforçar a sua rede de proteção social.
- Dívida pública elevada: o Brasil deve respeitar a regra do teto de gastos e aprimorar a capacidade do setor público para enfrentar adversidades.
No campo das finanças do governo, os diretores do FMI avaliaram que seria adequado aprovar ajustes que reduzam a rigidez do Orçamento e abram espaço para mais investimentos na infraestrutura e na área social. “O teto de gastos prestou um papel relevante na manutenção da confiança dos agentes do mercado e a sua manutenção é necessária para a redução da dívida pública”, diz o documento. “Uma reforma fiscal abrangente deveria aumentar a progressividade, simplificar o sistema e aprimorar a alocação dos recursos.” Essas medidas, ao lado de ações no sentido de reforçar a situação fiscal de estados e municípios, contribuirão para ampliar a capacidade do setor público de absorver os choques adversos, conclui a análise do FMI.
Enquanto isso, o que faz o governo? Sabota a reforma tributária e negocia maneiras de contornar as restrições do teto de gastos. A PEC dos Precatórios, em discussão na Câmara, nada mais é do que uma pedalada autorizada: vai jogar para a frente o pagamento de até R$ 50 bilhões que deveriam ser feitos no próximo ano e, assim, abrir espaço no Orçamento para aumentar as despesas em outras áreas.
Guedes, que deveria ser o guardião da estabilidade, alimenta incertezas. Não apresenta um plano coerente para enfrentar os desequilíbrios na economia e esquiva-se de suas responsabilidades. O problema são sempre os outros. Sem entregar as privatizações nem as reformas prometidas, enfrenta popularidade cadente mesmo entre os seus antigos defensores no mercado e sofre um processo intenso de fritura dentro do governo.
Em artigo no Estadão, o economista Felipe Salto, diretor-executivo do Instituto Fiscal Independente (IFI) argumenta que a proposta para adiar o pagamento de parte dos precatórios não passa de uma maneira de calotear despesas obrigatórias. Diz Salto: “Essa lambança fiscal representará o fim do teto de gastos, turbinará os juros (ainda mais), elevará a dívida pública e reduzirá as chances de crescimento econômico. A sanha por abrir espaços orçamentários em ano eleitoral já está sendo penalizada, naturalmente, pelas forças de mercado”.
A avacalhação de regras fiscais corrói a credibilidade do País. Não por outro motivo o Brasil encontra-se na contramão da retomada mundial pós-pandemia. A Covid-19 perdeu força, mas o bolsonarismo ameaça produzir estragos ainda maiores. O resultado desalentador de tamanha incompetência é o retrocesso social visível nas estatísticas e nas ruas de todo o País.