O Café com o CLP recebeu João Amoêdo, fundador do Partido Novo e um dos expoentes nas negociações para a candidatura de terceira via nas eleições do próximo ano. Amoêdo vê poucas chances de avanços na agenda reformista com o atual governo e defende o impeachment de Bolsonaro.
Ainda não existe uma candidatura natural de centro para desafiar Jair Bolsonaro e Lula da Silva, mas haverá uma decantação até o próximo ano e será necessário constituir uma união das forças do centro reformista e democrático para derrotar os populistas. A união deverá ocorrer em um segundo momento, por causa das questões partidárias.
Essa é a análise de João Amoêdo, um dos fundadores do Partido Novo e candidato à Presidência nas eleições de 2018, durante mais uma edição do Café com o CLP. “A largada deverá ser com vários candidatos, mas depois haverá um afunilamento”, disse Amoêdo. “Mas é importante que nessa largada existam pontos de convergência, para que depois o apoio de um para outro não pareça algo incoerente”.
02:03 Narrativa populista vs. reformista
04:39 Rejeição ao populismo
05:38 União do centro
08:36 O futuro do Novo
11:29 Defesa do impeachment
13:23 Funil das candidaturas
Na conversa, ocorrida na manhã do dia 18 de maio, Amoêdo comentou que seu partido se dividiu quanto ao apoio a Bolsonaro, mas ele particularmente se coloca hoje contrário ao governo e defende a abertura de um processo de impeachment contra o presidente. A entrevista foi conduzida pelo cientista político Luiz Felipe D’Avila, fundador do Centro de Liderança Pública (CLP) e publisher do Virtù News.
Para o líder do Novo, o partido deveria sair “de uma linha de independência para uma oposição clara”, inclusive defendendo o impedimento do presidente. Mesmo que o impeachment não avance, seria importante “marcar posição”, diante dos diversos crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro. “Seria um processo educativo, para mostrar às pessoas o que foi feito de errado”.
Sobre a agenda de reformas, Amoêdo disse que os projetos vêm sendo esvaziados e fatiados e por isso é cético no que se refere à aprovação de mudanças significativas. “O Presidente não tem segurança quanto às reformas e não as trata como prioridades”, afirmou. “A prioridade dele é a reeleição, e essas reformas mexem com interesses que foram criados ao longo do tempo”.
Ainda segundo Amoêdo, na atual estrutura do estado a grande maioria da população paga as contas para sustentar uma minoria de privilegiados, que, influentes politicamente, atuam para minar a agenda reformista. Reformas que afetem interesses políticos, nesse contexto, possuem baixa possibilidade de prosperar na atual gestão. “Se acontecer algo, não trará nada de relevante”.
Na conversa, Amoêdo argumentou que, para ganhar apoio da sociedade e dobrar as resistências políticas, os defensores da agenda reformista terão que mostrar antes os “fins”, os objetivos a serem alcançados, antes de passar pelo desgaste de falar dos “meios”. “Falamos muito dos meios e poucos dos fins”, disse ele.
Os fins são como superar a pobreza e como diminuir a desigualdade, ao passo que os meios são as reformas estruturantes e o reordenamento das contas públicas. “Talvez devêssemos falar mais dos legados que queremos deixar para a gerações futuras e menos das reformas”, comentou.
“O combate à pobreza, por exemplo, passa por reverter tudo que fizemos no passado. Isto é, ter uma economia mais aberta, ter uma simplificação tributária, capacitar as pessoas com uma educação básica de qualidade. Então precisamos começar pelos fins de depois falar do meio”.
O encontro com Amoêdo foi mais um da série de Café do CLP que está ouvindo as vozes do centro democrático. Já falaram Eduardo Leite, Luiz Henrique Mandetta, Sergio Moro, João Doria e Luciano Huck, além de Amoêdo.