Culpar o “custo Brasil” pela retração industrial é terceirizar responsabilidades, diz economista. Empresas competitivas possuem três pontos em comum: investimento em inovação, internacionalização e forte estrutura de capital
A indústria brasileira enfrenta há anos um contínuo declínio de sua participação na economia. Normalmente, atribui-se essa crise à perda de competitividade em decorrência do chamado “custo Brasil”. Mas essa é uma explicação que conta apenas parte da história, afirma o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados. Há exceções, mas a indústria brasileira acostumou-se a sobreviver com a ajuda de subsídios e a proteção contra importados, investe pouco em tecnologia de ponta e é incapaz de competir internacionalmente.
A produtividade do setor se mantém estagnada há três décadas, uma consequência de falhas no processo de inovação. Trata-se de algo preocupante, porque a indústria desempenha um papel importante no desenvolvimento tecnológico.
“O processo de encolhimento da indústria é nítido e não há como deixar de reconhecer esse fato. No caso do Brasil, é concluir que a desindustrialização tem sido precoce”, diz Mendonça de Barros.
Mas qual a razão desse encolhimento? “A partir do governo Geisel, houve uma tentativa canhestra de produzir uma nova grande rodada de substituição de importação”, diz o economista. “O resultado foi uma indústria sem dinamismo.”
Na sua avaliação, houve uma má interpretação do que seria o progresso técnico. Antes, ele era determinado pelas máquinas, o hardware. Hoje a fonte da produtividade está no software, o conhecimento embutido nos produtos finais.
O “custo Brasil” inegavelmente existe, mas culpá-lo pelo atraso é terceirizar responsabilidades, afirma o economista. Tanto é assim que existem exemplos de empresas no País extremamente competitivas, líderes em suas áreas de atuação, a despeito do “custo Brasil”.
Em um estudo (Existe Futuro para a Indústria_29.03.21) produzido com o engenheiro João Fernando Gomes de Oliveira, o economista afirma que foram identificados três fatores comuns aos casos de sucesso: intensa agenda de desenvolvimento tecnológico e produtividade, forte inserção internacional e sólida estrutura de capital.
“Sem ligação com o exterior, nossa indústria será cada vez menor”, diz Mendonça de Barros. “É necessário sair o quanto antes dessa estrutura suicida.”