Economista afirma que o desequilíbrio fiscal e a falta de transparência nas emendas parlamentares causam preocupação, mas na sua avaliação o maior risco para o País são as ameaças à estabilidade política. “Podemos divergir, mas precisamos acreditar na democracia”
Não temos ambiente técnico nem político para fazer reformas com o atual governo, sentencia a economista Laura Karpuska, professora do Insper. “A pandemia escancarou a dificuldade do governo para tomar decisões práticas e com o foco adequado”, afirma.
Um dos focos de preocupação, como demonstrado nas decisões recentes, está no uso de recursos públicos para ganho eleitoral puro e simples. “O populismo fiscal é preocupante, precisamos monitorar”, diz Laura. “O governo não pode usar programas sociais para fins eleitoreiros, distorcendo programas que já se mostraram efetivos.”
Formada na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, Laura possui doutorado pela Universidade do Estado de Nova York em Stony Brook. Especialista em economia política e macroeconomia, é também colunista do Estadão.
Ainda que negociações em torno de recursos façam parte da negociação política, a economista se diz preocupada com a crescente falta de transparência na prestação de contas sobre o destino das emendas parlamentares, particularmente nas chamadas emendas do relator. “O Orçamento não mente, mas a gente precisa conseguir observá-lo”, diz. “Não conseguimos mais saber exatamente para qual ministério estão indo parte das emendas nem quais as bases eleitorais beneficiadas.”
A sua avaliação é de que Jair Bolsonaro nunca foi reformista de fato. A reforma da Previdência ocorreu apenas porque o governo se aproveitou do trabalho realizado em gestões anteriores. A fragilidade do teto de gastos, que ameaça cair, é outro sinal da pouca disposição para realizar os ajustes necessários. As medidas adicionais de equilíbrio fiscal não foram aprovadas.
Na entrevista ao Virtù, Laura comentou também a polarização política e as consequências negativas da falta de diálogo em torno de projetos comuns. Para ela, mais do que o risco fiscal, a grande preocupação com relação ao futuro do País está na estabilidade da democracia.
“O cenário não é de otimismo, porque não estamos conseguindo dialogar com os diferentes”, afirma ela. “Podemos divergir, mas sem nos colocarmos em pólos opostos. Precisamos acreditar na democracia e no Brasil.”