Cientista político analisa corrida eleitoral e destaca a importância de debates para a construção de uma candidatura viável de centro. O programa Primárias, parceria do CLP com o Estadão, promove o encontro de três presidenciáveis: Ciro, Mandetta e Leite.
Os brasileiros cansaram-se da polarização e de outsiders. Nas eleições do próximo ano, os atributos que deverão ser valorizados pelos eleitores são a experiência na gestão pública e em lidar com a complexidade administrativa do governo. Isso é o que indicam as pesquisas qualitativas, afirma o cientista político Antonio Lavareda, presidente do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) e um dos mais respeitados analistas do País.
Como sinalizaram as disputas municipais no ano passado, os eleitores se afastaram de aventureiros populistas e privilegiaram forças moderadas na hora do voto. A tendência deverá seguir no próximo ano. Vozes de união e que pacifiquem o País terão potencial de atrair milhões de eleitores insatisfeitos com a possibilidade de ter de escolher entre os dois candidatos que hoje lideram as intenções de voto, Lula e Bolsonaro. Resume Lavareda sobre as características mais valorizadas pela população neste momento: “Componente ético, experiência política e administrativa”.
Antonio Lavareda foi o convidado, na manhã da última sexta-feira (25), de mais uma edição do Café CLP, promovido pelo Centro de Liderança Pública. A entrevista foi conduzida pelo cientista político Luiz Felipe d’Avila, presidente do CLP e publisher do Virtù.
00:16 Diálogo e consenso
06:47 Atributos do candidato
08:53 Internet e campanha analógica
12:56 Importância dos debates
15:35 Virtudes e desafios dos candidatos
Para o cientista político, as preocupações dos eleitores espelham o atual momento de dificuldade e crise, com 15 milhões de trabalhadores desocupados, inflação em alta e aumento na desigualdade, sem falar nos efeitos trágicos causados pela incompetência do governo no combate à pandemia.
Na conversa, Lavareda analisou a importância dos debates eleitorais para ampliar o conhecimento dos eleitores sobre os candidatos, aprofundar a discussão sobre os tópicos prioritários e, assim, ajudar na construção de uma candidatura viável para unir as lideranças políticas não alinhadas a nenhum dos extremos políticos. Nesse sentido, o analista político celebrou a iniciativa do CLP, em parceria com o Estadão, de realizar as primeiras primárias com o debate de presidenciáveis do centro — que Lavareda prefere classificar como força “moderada”.
O programa Primárias acontecerá na quinta-feira (1 de julho), a partir das 18h30, e terá transmissão ao vivo pela internet e duração prevista de 1h30. Vão participar desse primeiro debate três dos nomes que disputam a indicação para encabeçar a chapa do centro democrático: Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Eduardo Leite (PSDB). Os temas da discussão serão centrados nos efeitos da pandemia e nos caminhos para a retomada econômica.
“Esse debate é extremamente importante, a marca do ineditismo é forte”, afirmou Lavareda. “Quanto mais tempo o eleitor tiver para a reflexão melhor. Outros meios de comunicação deveriam realizar debates como esse que finalmente e felizmente será realizado. Com debates assim, os eleitores só teriam a ganhar. As escolhas seriam mais apuradas”.
Em um artigo recente no Estadão, Lavareda analisou como as primárias realizadas pelos democratas nos Estados Unidos foram importantes para a escolha do melhor candidato para derrotar Donald Trump. De uma lista inicial de 29 nomes, o funil levou a Joe Biden, que acabou vitorioso na eleição presidencial. Biden não era o nome mais popular nas redes sociais e, para muitos, era motivo de piada, pela sua idade e histórico de gafes. Acabou rindo por último. Beneficiou-se de seu desempenho conciliador ao longo das prévias — cujos debates, nos Estados Unidos, são acompanhados de perto pelo eleitorado e pela imprensa. Aqui, predomina o processo opaco e distante dos eleitores, com escolhas partidárias feitas a portas fechadas pelos caciques e cardeais das legendas.
A definição dos candidatos que estarão no páreo em 2022 deverá ocorrer apenas em março, quando há a janela eleitoral para troca de partidos. Até lá, porém, será essencial incentivar os debates entre os presidenciáveis para construir candidaturas robustas.
Na conversa, Lavareda fez também uma breve análise das virtudes e desafios de seis nomes que eventualmente poderão agregar as forças de centro. Além de Ciro, Mandetta e Leite, são eles: Tasso Jereissati (PSDB), João Dória (PSDB) e Rodrigo Pacheco (DEM). Dois outros possíveis presidenciáveis, Luciano Huck, Sergio Moro e João Amoêdo, já decidiram que estarão fora da disputa.
Com o amadurecimento do diálogo, diz Lavareda, será possível construir soluções razoavelmente consensuais para que o País supere a paralisia e a polarização. Há um caminho alternativo à polarização, e esse é o caminho apoiado pela maioria dos brasileiros, como indicam as pesquisas. A maioria dos eleitores rejeita tanto Lula como Bolsonaro. Em pesquisa da XP/Ipespe divulgada há duas semanas, 50% dos eleitores consideraram o atual governo ruim ou péssimo. Em uma outra pesquisa, do PoderData, 50% disseram que não votariam em Lula e 49% que não dariam o voto a Bolsonaro.