Virtù News entrevista o cientista político Leandro Piquet Carneiro, especialista em assuntos de segurança e pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da USP. Na conversa, analisa o impacto negativo da absolvição de Pazuello, comenta a influência de Bolsonaro nas Polícias Militares e explica por que vê poucas chances de uma ruptura institucional
Leandro Piquet Carneiro é um dos mais respeitados estudiosos de segurança pública no País. Tem acompanhado com preocupação o alinhamento corporativo das Polícias Militares, em diversos estados, com o presidente Jair Bolsonaro. Em sua avaliação, há uma crescente politização das polícias, com lideranças chegando ao Congresso e fazendo proselitismo de classe. “É produto de agitação sindical corporativa”, afirma Piquet Carneiro.
Um ponto de atenção é se atos de insubordinação e levantes forem tolerados, inflando agitações corporativas e políticas. Mas Piquet Carneiro considera improvável que os PMs dêem suporte a uma eventual tentativa de golpe. “Querem salários, não uma ditadura”, afirma.
00:11 Absolvição de Pazuello
02:21 Politização das PMs
06:32 Fragilidade no controle de armas
09:06 Risco de golpe
A politização, contudo, contribui para a piora na qualidade da prestação do serviço de segurança pública, porque os oficiais passam a trabalhar para defender os interesses de classe, numa corporação fechada e menos alinhada às prioridades da população. Diz ele: “O legado das greves e levantes é mais politização. Piora na qualidade dos serviços, porque os oficiais agem como líderes sindicais”.
Nesse sentido, Piquet Carneiro considera que a absolvição do general Eduardo Pazuello pelo Alto Comando do Exército foi muito ruim. Pazuello claramente violou as normas de disciplina e hierarquia ao tomar parte de um ato político ao lado de Bolsonaro. “O comando do Exército tomou uma decisão errada ao não punir diante de uma clara violação de procedimentos estabelecidos há muitas décadas”, afirma. “Foi mais um movimento na direção errada desse governo na relação com as Forças Armadas”.
Segundo Piquet Carneiro, as Forças Armadas vão corroendo o trabalho bem-sucedido que vinham fazendo, desde a redemocratização, para consolidar a sua imagem como agentes do estado, e não de governos. “Elas tiveram um papel na consolidação do regime democrático, que é o mais longo da história brasileira”.
Piquet Carneiro reconhece que houve retrocessos institucionais, mas não acredita que haja o risco de um golpe de estado. “Vejo um distanciamento dos militares com relação a qualquer aventura dessa natureza. O que existe é uma erosão gradativa de regras, algo que pode provocar desorganização”, diz ele. “Mas um movimento como o de 1964 resultou de um longo processo de organização civil e militar. Não vejo Bolsonaro com a capacidade de liderar algo nesse sentido. É um presidente frágil”.