Consultor afirma que as medidas emergenciais devem evitar o corte compulsório de eletricidade, mas o sistema ficará sujeito à ocorrência de apagões nos horários de pico. País deve acelerar diversificação da matriz para ficar menos vulnerável a questões climáticas
O nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste continua em queda e estão abaixo dos níveis desde o racionamento de 2001. Na pior crise hídrica em mais de 90 anos, cresce a possibilidade de haver um novo corte compulsório de energia. Esse, contudo, não é ainda o cenário mais provável, de acordo com Luiz Augusto Barroso, diretor-presidente da PSR, uma das mais respeitadas consultorias do País na área de energia.
Nos cálculos da consultoria, o risco de haver uma redução obrigatória na oferta de eletricidade neste ano está hoje entre 10% e 15%. Trata-se de um número elevado, mas que poderá ser reduzido e até mesmo zerado, caso surtam o efeito esperado as ações de incentivo na redução da demanda e também de aumento na oferta de energia disponível.
Barroso, que já foi presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ressalta contudo que é de 30% a chance de haver apagões — as quedas inesperadas de fornecimento ocorridas nos horários de pico de consumo. “O risco desses apagões, pelas nossas análises, estariam concentrados na segunda quinzena de outubro e no início de novembro”, diz Barroso.
Para contornar essa ameaça, o governo busca ampliar a oferta emergencial. Ampliou a importação e autorizou a operação de usinas térmicas antigas — e altamente poluentes. Além disso, fará ainda neste mês um leilão para a contratação de energia de reserva, tanto térmicas a gás e óleo como de fontes renováveis. Haverá ainda a entrada em operação de novas usinas ao longo dos próximos meses, o que deverá contribuir para eliminar o risco de racionamento no próximo ano, mesmo em um cenário no qual as chuvas permaneçam abaixo das médias históricas.
“Implementar um racionamento de energia com corte compulsório é extremamente complicado, não apenas pela ótica política, mas também pelas questões técnicas”, diz Barroso. Haveria um grande impacto negativo no crescimento econômico, como ocorreu em 2001. É, portanto, uma opção a ser evitada.
O Brasil possui uma matriz energética invejável, dominada por fontes alternativas. Mas é vulnerável às questões climáticas. A segurança do sistema exige ampliar o investimento em novas fontes. “É necessário acelerar a diversificação.”