Depois de ter recuperado os direitos políticos, petista sai em campanha e volta a defender as suas velhas ideias populistas e fora de lugar — a favor da repressão em Cuba e a favor do uso “estratégico” da Petrobras, contra as privatizações e as reformas econômicas
Lula da Silva voltou com fôlego renovado. Desde abril, quando o Supremo Tribunal Federal derrubou as condenações que o haviam colocado na prisão, o petista botou a sua campanha na rua. “Estou livre, leve e solto”, repete ele. Livre, leve e solto para vender o velho populismo de sempre. É o que tem feito nas suas declarações nas últimas semanas. O petista continua sendo um campeão em dar bola fora.
Enquanto os cubanos saíam às ruas para protestar contra a fome e a doença que os castigam, Lula repetiu a surrada ladainha de que a penúria na ilha caribenha é culpa do embargo americano. “Se Cuba não tivesse um bloqueio, poderia ser uma Holanda”, disse Lula. Por mais anacrônico que seja o embargo americano, ele atinge parte das transações entre os países. Os Estados Unidos são um dos principais fornecedores de alimentos para o país, que, ademais, tem total liberdade para negociar com todo o resto do mundo. O problema real é a baixa eficiência produtiva da economia planificada e controlada com mão de ferro, pouco competitiva e incapaz de gerar riqueza.
Sobre as manifestações, Lula falou que havia ocorrido apenas uma passeata, inclusive com a participação do presidente Miguel Díaz-Canel, sucessor dos irmãos Castro no comando da ditadura comunista está no comando desde 1959. “Você não viu nenhum soldado em Cuba com o joelho em cima do pescoço de um negro, matando ele…”, tuitou Lula, em referência ao americano George Floyd, morto sufocado por um policial.
Lula não viu ou não quis ver as imagens da repressão violenta dos militares cubanos contra o seu povo. Os vídeos puderam ser divulgados pelos manifestantes por meio das redes sociais apenas enquanto Díaz-Canel ainda não havia derrubado a internet na ilha.
3 – Se Cuba não tivesse um bloqueio, poderia ser uma Holanda. Tem um povo intelectualmente preparado, altamente educado. Mas Cuba não conseguiu nem comprar respiradores por causa de um bloqueio desumano dos EUA.
— Lula (@LulaOficial) July 13, 2021
Esse é o mesmo Lula que, em 2007, mandou prender e deportar os boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara. Ambos fugiram da delegação de Cuba durantes os Panamericanos no Rio, mas, para agradar o seu amigo fraterno Fidel Castro (1926-2016), o ex-presidente despachou a Polícia Federal no encalço dos atletas.
Quando o assunto é economia, Lula também tem sido pródigo em dar bolas fora. Em comentários recentes, criticou a privatização de “estatais estratégicas” como a Eletrobras e os Correios, condenou a política de preços da Petrobras e afirmou que, se eleito, vai acabar com a Lei do Teto de Gastos Públicos.
“A quem interessa o teto de gastos? Aos banqueiros? Ao sistema financeiro?”, tuitou o ex-presidente. O teto interessa a todos os brasileiros. Serve para que políticos populistas como ele e a sua sucessora, Dilma Rousseff, criem despesas para além das capacidades do País. Os brasileiros pagam até hoje por desequilíbrios engendrados nos anos do PT no poder. Foram bilhões e bilhões distribuídos em subsídios, e novos cargos públicos. O déficit nas contas do governo elevou a dívida pública, fazendo o Brasil perder a classificação de “investment grade”. Sem falar nas infames pedaladas fiscais, que chegaram a quase R$ 60 bilhões ao final de 2015.
Da mesma maneira, Lula está contra as privatizações, como sempre esteve, porque a venda de estatais engessa a amplitude da criatividade para o mau uso do bem público. A Eletrobras sofreu prejuízos gigantescos com a decisão de Dilma de reduzir, numa canetada, a tarifa da eletricidade em 20%, depois da edição da trágica Medida Provisória 579, no fim de 2012.
Esse negócio de tentar privatizar os Correios… Se o governo não sabe administrar, pra que governo?! Essas empresas que eles querem vender agora são estratégicas. Foram construídas com muito suor do povo brasileiro. E dão ao governo o poder de induzir nosso desenvolvimento.
— Lula (@LulaOficial) July 6, 2021
Os crimes de corrupção envolvendo a Petrobras nos anos Lula foram bem documentados pela Lava Jato. A estatal sofreu também perdas bilionárias com o controle de preços dos combustíveis. Quanto aos Correios, basta dizer que a empresa, usada há anos para acomodar interesses políticos nada republicanos, esteve no centro do primeiro caso de corrupção do governo Lula. A denúncia levou à CPI dos Correios e às revelações do Mensalão.
O retrocesso econômico e social, agora denunciado por Lula, teve início na verdade nas recessões dos anos Dilma. Sem os erros de sua sucessora e a terra arrasada legada por ela na economia, Jair Bolsonaro muito provavelmente não teria sido eleito.
O ex-presidente se apresenta como um democrata capaz de salvar o País contra o “fascismo” bolsonarista. Julga-se a única alternativa política para derrotar o atual presidente em 2022 e faz pouco caso das candidaturas da “terceira via”. Mas milhões de brasileiros mantêm vivos na memória os descaminhos do PT. Tanto é assim que a maior parte dos eleitores não quer votar nem em Lula nem em Bolsonaro no próximo ano. Deseja a alternativa desdenhada pelo petista.
É bom lembrar também que Lula está “livre, leve e solto”, mas não foi absolvido. O STF julgou que o ex-presidente não foi julgado em foro adequado. Um novo processo será iniciado. Até que isso ocorra, até poderá haver a prescrição de crimes dos quais ele é acusado. Mas isso não apaga o histórico da corrupção que destruiu empresas e trouxe ruína econômica. Lula continua réu em diversas ações penais e terá que prestar contas à Justiça.