Primárias mostram que presidente ignorou o timing político para colher os frutos eleitorais das suas reformas pró-mercado.
ARTIGO | LUIZ FELIPE D’AVILA
O presidente Mauricio Macri sofreu uma acachapante derrota nas eleições primárias na Argentina nesse domingo. A vitória do candidato peronista, Alberto Fernández, por uma ampla maioria dos votos – que tem como vice na sua chapa Cristina Kirchner, a presidente que arruinou o país – repercutiu muito mal nos mercados. Macri obteve 32% dos votos, mas Fernández, seu adversário peronista, conquistou 48% do votos, o que lhe daria vitória no primeiro turno nas eleições. A pergunta que dominou a roda de discussões nos mercados hoje é se o presidente Macri poderia reverter sua derrota eleitoral nas primárias até outubro.
O “imponderável” é capaz de alterar reviravoltas numa eleição, mas se analisarmos os fatos, Macri terá muita dificuldade de vencer o pleito em outubro. Um presidente que governa um país com 53% de taxa de inflação e quase 10% de desemprego terá dificuldade de convencer os argentinos de que ele merece ser reeleito. O sentimento geral é de decepção com o governo Macri. De fato, ele fracassou em resolver os problemas estruturais do país. Perdeu tempo precioso logo no início do seu mandato, quando deveria ter anunciado um pacote de medidas duras de ajuste fiscal e de corte de gastos públicos. A lentidão de suas reformas pró-mercado ainda não surtiram o efeito esperado. A economia continua mergulhada na recessão, o emprego não retomou, tampouco o investimento. Esse sentimento de frustração com as reformas podem lhe custar a sua reeleição. Macri ignorou o timing político para colher os frutos eleitorais das suas reformas pró-mercado.
É verdade que Macri herdou uma Argentina arruinada pelo peronismo e principalmente por Cristina Kirchner, que quer voltar como vice-presidente de Alberto Fernández. Ela foi responsável por políticas desastrosas que destruíram a economia argentina. Estatizou uma companhia de petróleo espanhola, restringiu a exportação de produtos agrícolas, impôs um fracassado sistema de controle de preços e foi acusada de corrupção.
Macri usará o medo do retrocesso e da volta do populismo peronista para convencer os eleitores que suas medidas econômicas começarão a surtir efeito no início do seu segundo mandato, trazendo de volta o crescimento, o emprego e o investimento. Alberto Fernández vai bater na tecla de que as reformas pró-mercado de Macri trouxeram recessão, desemprego e uma humilhante busca de ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) para salvar o país da bancarrota.
Os argentinos irão às urnas com uma mistura de desilusão com o atual governo, mas sendo relembrado por Macri do passado desastroso do populismo Kirchner.
Enquanto os argentinos decidem se votarão com a razão ou se sucumbirão novamente à cachaça do populismo, o mercado se antecipa e começa a liquidar suas posições de Argentina, o que pode colaborar para agravar a já claudicante situação econômica do país e destruir de vez a esperança da reeleição de Macri.