A pandemia trouxe três mudanças de comportamento no Brasil e no mundo: o despertar da força cívica nacional que se manifestou na união dos governos locais, do setor privado e das lideranças da sociedade civil para lidar com a crise; a valorização das empresas e o aumento da eficácia das atividades online; aumento do controle do Estado sobre o ir e vir dos cidadãos, as restrições de liberdade, dados e informações.
A crise do coronavírus trouxe três mudanças comportamentais importantes que vieram para ficar: o crescente ativismo cívico, a explosão das atividades online e o perigoso aumento do poder do Estado sobre dados pessoais.
Ativismo cívico
No Brasil, a crise trouxe um saudável despertar da força da sociedade civil. Na ausência da liderança do presidente da República e do governo federal em conduzir o País, fornecer informações confiáveis e dar o bom exemplo de conduta cívica, a sociedade civil virou as costas para Brasília. A união dos governos locais, do setor privado e das lideranças da sociedade civil tornou-se a verdadeira força nacional para lidar com a crise.
Prefeitos e governadores, líderes empresariais e do terceiro setor e lideranças comunitárias reuniram o poder da máquina pública, a capilaridade das organizações sociais e comunitárias e os recursos e a capacidade de execução da iniciativa privada para enfrentar as questões emergenciais da crise para atender as demandas urgentes da sociedade.
Assim, foi possível reunir recursos, processos, logística e celeridade para fazer alimentos e recursos chegarem aos mais necessitados, garantir a compra e envio de equipamentos e insumos médicos aos hospitais e assegurar o abastecimento da população e o funcionamento do comércio e serviços essenciais.
Atividades online
No Brasil e no mundo, as atividades online cresceram vertiginosamente. Além de acelerar tendências que já vinham se manifestando antes da crise – como o comércio online e a indústria de entretenimento online –, prestadores de serviços tiveram de se adaptar rapidamente ao mundo virtual para sobreviver.
Empresas descobriram que reuniões virtuais são mais eficazes: começam na hora, exigem mais objetividade dos seus participantes e são mais produtivas. Não é por outra razão que empresas como a Amazon, que já atuavam nessas três áreas – comércio eletrônico, entretenimento e serviços de apoio às empresas e comerciantes (do “cloud” ao market place) – atingiram o pico da valorização de suas ações no mercado durante a crise.
Poder do Estado sobre dados pessoais
Finalmente, a crise aumentou o pesadelo do “Big Brother”. Em momentos de emergência é natural que uma sociedade livre e democrática abra mão de alguma restrição a liberdade individual para manter a segurança da sociedade. Governos passaram a monitorar dados pessoais e geolocalização dos seus cidadãos por meio de telefones celulares.
A liberdade de imprensa foi cerceada em vários países. Circulação de pessoas e controle de fronteiras foram estabelecidas. Como vivemos em tempos estranhos, no qual os valores da democracia estão em baixa e o populismo nacionalista está em alta, é sempre temerário saber qual será o “novo normal” depois da crise. Um dos maiores perigos das sociedades democráticas é aceitar gradualmente as restrições de liberdade, dados e informações como o “novo normal” para se manter a segurança do país.