O Brasil nunca teve condições tão favoráveis para se aprovar as reformas do Estado, fortalecer as instituições democráticas e retomar a confiança de investidores e o crescimento econômico. A truculência de Bolsonaro cria tensão entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e pode colocar em risco essa oportunidade de ouro.
Não é normal no regime presidencialista um manifesto assinado por 20 governadores, dos mais diversos partidos, contra a truculência do presidente da República.
Primeiro, a polêmica criada por Bolsonaro para enquadrar os governadores a reduzir o imposto (ICMS) sobre combustível. Em seguida, seu disparo irresponsável contra o governador da Bahia, Rui Costa, sobre o envolvimento da polícia na morte do miliciano, capitão Adriano. Nos dois episódios, Bolsonaro retrata seu desconforto em respeitar a Constituição, notadamente a autonomia dos estados em questões tributárias e de segurança pública.
Pressão a governadores
Além de desrespeitar os governadores e a Constituição, o presidente demonstra sua absoluta insensibilidade política. Primeiro, Bolsonaro pressiona os governadores a reduzir impostos no momento em que os estados enfrentam enorme dificuldade financeira para pagar suas despesas públicas e não ultrapassar o limite do teto do gasto.
Se o presidente tivesse um pouco mais de habilidade política, o Congresso já teria aprovado a PEC Emergencial, medida vital para permitir aos governadores cortar despesas sem violar a Constituição.
Morte do capitão Adriano
Segundo, Bolsonaro perdeu uma ótima ocasião para ficar quieto sobre a morte do capitão Adriano. Trata-se de um criminoso tratado como herói por Flavio Bolsonaro, que condecorou o miliciano com a mais alta honraria do Rio de Janeiro (Medalha Tiradentes), e ainda empregou a mãe e ex-mulher de Adriano em seu gabinete, como lembrou Eliane Catânhede, colunista do Estadão.
Menosprezo pela classe política
Terceiro, é preocupante a frequência assustadora das demonstrações de menosprezo do presidente pela classe política. Suas falas e suas escolhas criam tensão entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, revelam seu desrespeito aos políticos e sua enorme dificuldade honrar o cargo que ocupa.
O Brasil nunca teve condições tão favoráveis para se aprovar as reformas do Estado, fortalecer as instituições democráticas e se tornar um País mais aberto, previsível e confiável. Bolsonaro, com seu comportamento errático e pouco presidencial, pode colocar em risco essa oportunidade de ouro.
A salvação do País está justamente no poder do freio e contrapeso da classe política. São os parlamentares e os governantes que podem arredondar as bolas quadradas do presidente e colocar o Brasil no caminho certo. Ironicamente, são justamente os políticos – a classe que o presidente trata mal e menospreza – em parceria com a pressão popular e a mobilização da sociedade civil quem podem salvar o Brasil das consequências nefastas de mais um pesadelo populista.