A pandemia acelerou tendências que impactam fortemente a economia mundial, como o encolhimento da classe consumidora, o aumento da pobreza extrema e da desigualdade e o envelhecimento da população. No Brasil, a crise é agravada pelo populismo, que abala a confiança dos investidores externos e privados. É preciso manter a mobilização da sociedade civil para a realização das reformas essenciais à retomada da economia e apoiar governos locais e terceiro setor, que vêm agindo de maneira eficaz nas frentes emergenciais do combate à crise do Covid-19.
Estudo realizado pelo World Data Lab revela o impacto da crise do Covid-19 sobre o consumo no mundo. A classe consumidora perdeu 140 milhões de pessoas em 2020; a América do Sul, puxada fortemente pela queda do consumo no Brasil, perdeu quase 8 milhões de pessoas.
Apesar de vários estudos indicarem a rápida retomada da economia em 2021, o gasto com consumo caiu 4 trilhões de dólares entre 2019 e 2020, e vai demorar pelo menos 10 anos para voltar ao nível de 2019.
O consumidor será mais velho
A pandemia evidenciou tendências que já haviam sido despontadas antes da crise. O “novo normal” indica três mudanças importantes. Primeiro, vai mudar o perfil do novo consumidor. Ao contrário da geração millenium, que era forte consumidora de bens e serviços, a nova geração é mais parcimoniosa. Ao invés de consumir, os jovens querem compartilhar. O consumo crescerá de maneira mais acentuada na geração mais velha; os “cabeças brancas” vão se tornar um importante segmento da classe consumidora.
Aumento da pobreza
Segundo, a crise do Covid-19 fez ressurgir o aumento da extrema pobreza no mundo. De acordo com os dados do Banco Mundial, o contingente de pessoas vivendo na extrema pobreza (1,90 dólar por dia) no mundo deve crescer entre 40 a 60 milhões de pessoas. Trata-se da primeira vez que o número de pobres no mundo cresceu desde 1998. O esforço para combater a extrema pobreza vai exigir grande esforço e coordenação de governos e de instituições multilaterais para reverter esse número trágico.
Mundo mais desigual
Terceiro, a disparidade de renda entre ricos e pobres estará no centro da agenda política. Não basta apenas assegurar a liberdade de mercado e a competição justa; será preciso ressuscitar o princípio da igualdade de oportunidade. O mundo tornou-se mais desigual. O acesso aos bons empregos e aos bons negócios tornaram-se quase um monopólio de pessoas abastadas que tiveram acesso às melhores universidades, vivem nos melhores bairros e convivem com as pessoas mais influentes da política, do mercado e do saber.
Desafio para o Brasil
O Brasil tem um desafio monumental no mundo pós-crise. O populismo agrava velhos problemas do País. Ao mesclar despesas emergenciais (e necessárias) para combater a pandemia do Covid-19 com aumento de gastos públicos irresponsáveis para agradar o corporativismo estatal, o País caminha rumo ao precipício fiscal.
Ao perder a confiança internacional e de investidores privados, o Brasil deixa escapar centenas de bilhões de dólares em investimento que poderiam ressuscitar a retomada da economia e do emprego. E, por fim, esse cenário se dá no momento em que a extrema pobreza volta a crescer, a classe média perde renda, o desemprego atinge nível recorde e o país envelhece antes de enriquecer.
Para sair dessa armadilha, o Brasil terá de manter a mobilização da sociedade civil e apoiar governos locais e terceiro setor, que vêm agindo de maneira célere, eficaz e exemplar nas frentes emergenciais do combate à crise do Covid-19. Essa união terá de ser preservada após a pandemia para defender a democracia, pressionar o governo para retomar a aprovação das reformas do Estado e mostrar ao mundo que o Brasil não pode ser resumido ao governo Bolsonaro. Existe vida e oportunidades além de Brasília.