Hannah Arendt argumenta que a principal estratégia dos ditadores é repetir mentiras até que se tornem fatos inquestionáveis. É o que faz Bolsonaro com seu séquito. Mas enquanto existir liberdade de expressão, as mentiras do presidente não vingam.
Artigo de Luiz Felipe D’Avila, fundador do CLP – Centro de Liderança Pública e publisher do VirtùNews
“As Origens do Totalitarismo” é um livro brilhante escrito pela filósofa Hannah Arendt. É um dos mais importantes escritos para compreender a gênese das ações, fatos e comportamentos que pavimentam o caminho do fim da liberdade, da democracia, da civilidade e da tolerância. Mostra a ascensão do totalitarismo e das ditaduras.
Hannah Arendt argumenta que a principal estratégia dos ditadores é repetir exaustivamente mentiras escandalosas até que se tornem fatos inquestionáveis. É o caso do presidente Jair Bolsonaro ao insistir na eficácia da cloroquina. A teologia Bolsonarista transformou as evidências científicas como a vacina, o uso de máscaras e o distanciamento social em mentiras para a sua tribo de seguidores — que está a cada dia derretendo. Enquanto existir liberdade de expressão e democracia, as mentiras de Bolsonaro não vingam, porque a população tem acesso aos fatos, à informação, às evidências e à ciência.
Apesar de o presidente ter criticado a vacina, 90% da população quer ser vacinada. Apesar de ter criticado o uso de máscaras, as pessoas compreendem que ela é essencial para salvar vidas. A ficha caiu para o povo: o governo Bolsonaro é tóxico para a democracia brasileira. Segundo a pesquisa XP/Ipespe, 60% da população critica a maneira pela qual o Bolsonaro governa o País. Mais da metade dos eleitores diz que não quer votar nem em Lula nem em Bolsonaro.
Para tentar sair do inferno astral e da alta rejeição da sua administração, Bolsonaro organiza passeios de motocicleta pelo país, no momento em que o Brasil continua a ser um dos recordistas mundiais no número de mortes da Covid. O comportamento revela que ele continuará dobrando a aposta no cultivo dos seus 25% de apoiadores e poderá colocar fogo no resto do País.
Bolsonaro acredita que manter a fidelidade desse séquito chegará ao segundo turno e vencerá as eleições presidenciais. Trata-se de uma aposta arriscada que, em última instância, pode destruir a própria democracia no País.
Para a maioria dos brasileiros, só há um partido: o da democracia e da liberdade. Mas o governo Bolsonaro é um retrato de que a democracia está em perigo no Brasil, como bem diagnosticou Hannah Arendt, no seu livro “As Origens do Totalitarismo”.
Se preferir, ouça na voz de Luiz Felipe D’Avila: