As pessoas só toleram líderes fanfarrões enquanto o governo entrega ordem, segurança, crescimento econômico, prosperidade, emprego e renda. Até agora, o governo Bolsonaro não entregou nenhum deles.
Bolsonaro adora Trump. O presidente brasileiro enxerga no colega americano uma fonte de exemplos a serem seguidos, em especial nos confrontos verbais com a imprensa livre ou com qualquer outro desafiante. Nosso Trump tropical, porém, corre sérios riscos de se tornar um tigre de papel. Trump ruge e assusta por que no seu país a economia cresce a 9 anos consecutivos (2010-2019) e a taxa de desemprego é a mais baixa da década. No Brasil, ao contrário, a economia está estagnada e a taxa de desemprego é a mais alta dos últimos 10 anos. Os rugidos de Bolsonaro em um contexto econômico tão adverso soam como miados.
Trump entrega crescimento aos americanos
Trump faz sucesso com uma parcela do eleitorado – e tem chances reais de ser reeleito em 2020 – não por seus chiliques populistas, mas por seu governo não ter afetado negativamente o momento positivo da economia dos Estados Unidos. O governo Trump continua entregando para os americanos crescimento econômico, emprego e renda. Bolsonaro, porém, tem muito pouco a apresentar no campo da percepção de que a vida dos brasileiros melhorou depois que ele assumiu a cadeira de presidente. Se o tão sonhado crescimento da economia e a retomada do emprego não saírem do papel até o primeiro semestre do próximo ano, de nada vai adiantar para Bolsonaro se sentir e agir como se fosse Trump.
Bolsonaro tem desafios de verdade
Se a economia não voltar a crescer e o País continuar a conviver com uma das taxas mais altas de desemprego da história, a agenda de costumes e o primitivismo do presidente Bolsonaro vão começar a irritar mesmo seus simpatizantes ocasionais, pois essas atitudes não combinam com bolso vazio e desemprego. A discussão sobre tomada de três pinos, Escola sem Partido e ONGs comunistas na Amazônia passarão a ser distrações irritantes para milhões de brasileiros que não conseguem empregos nem pagar suas contas. Bravatas de governantes soam como insultos aos ouvidos de quem piorou seu padrão de consumo e de vida.
Bom lembrar que fomos jogados na maior recessão econômica da história e no desemprego recorde por força do desastroso populismo econômico da presidente petista, Dilma Rousseff. Entre uma elegia à mandioca e a estocagem de ventos, Dilma derrubou o PIB em 7% e lançou 30 milhões de brasileiros ao desemprego. Ninguém achou graça. Com razão. Enquanto arruinava os setores produtivos, Dilma inflava o Estado, exacerbando a tendência destrutiva de seu antecessor. Somente no governo federal, as contratações cresceram 25% em 15 anos. No mesmo período, a remuneração média teve aumento real de 53%, enquanto a maioria dos brasileiros viu o salário encolher e o emprego formal desaparecer. Bolsonaro se elegeu presidente não por causa de suas tiradas de mau gosto, mas apesar delas. Ele venceu a eleição por ter sido o candidato visto como o único capaz de derrotar o PT e livrar o país do modelo de desgoverno petista, que infla o Estado e mata quem produz, investe e cria empregos. Agora, no governo, Bolsonaro precisa entregar o que sua candidatura prometeu.
As pessoas fora dos círculos descerebrados do fanatismo, até toleram regimes autoritários (como a China) e líderes fanfarrões (como Trump), mas só enquanto o governo entrega as seis maravilhas da vida em sociedade: ordem, segurança, crescimento econômico, prosperidade, emprego e renda. Até agora, o governo Bolsonaro não entregou nenhuma delas. Só a agenda impopular das reformas estruturantes – como a previdenciária, tributária, política e administrativa –são capazes de tirar o peso do Estado ineficiente, caro e moroso das costas dos brasileiros que trabalham, investem, empreendem e geram riqueza. Nosso tigre de papel tem desafios de verdade.