O baixo resultado do PIB brasileiro não é culpa da guerra comercial entre EUA e China ou do coronavirus. Ele é consequência do risco político que é ter um presidente da República cada vez mais isolado, alimentando teorias de conspiração. O crescimento econômico do País demanda previsibilidade política, segurança jurídica, e confiança nas leis, normas e instituições.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números frustrantes do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019: 1,1%. Embalado pelo otimismo da aprovação da reforma previdenciária e a perspectiva animadora da aprovação das reformas administrativa e tributária e da PEC Emergencial, vários economistas fizeram projeções alvissareiras para o crescimento econômico em 2020. Os mais otimistas projetaram um crescimento de 2,60% do PIB; já os mais realistas apostaram em 2,30%. Quando a realidade frustra as projeções, procura-se “fatos” para justificar os erros estatísticos.
O risco político do Brasil
Em 2019, a culpa do baixo crescimento foi da guerra comercial da China e Estados Unidos; em 2020, a culpa é do coronavirus. Apesar desses fatores impactarem o crescimento da economia mundial, o fato é que no Brasil as estimativas de crescimento econômico são frustradas pelo erro de cálculo de uma variável-chave: o “risco político”.
A prevalência do otimismo infundado (“wishful thinking”) das projeções econômicas sobre o andamento das reformas no Congresso não corresponde aos fatos. Desde 2019, a tensão política entre os Poderes Executivo e Legislativo aumentou ao invés de diminuir. Bolsonaro continua a demonstrar três características preocupantes que desencadeiam crises desnecessárias no âmbito político.
Menosprezo pela classe política
Primeiro, o presidente cultiva um menosprezo atroz pela classe política. Bolsonaro costuma culpar o Congresso, os partidos e os parlamentares pelos problemas do Brasil, como o aparelhamento do Estado e a dificuldade de se aprovar as reformas. É difícil criar uma relação construtiva com o Legislativo quando o governo padece de articulação política para construir propostas consensuais em torno das reformas.
Falta de clareza sobre prioridades
Segundo, o estilo errático do presidente aumenta a tensão política. Os constantes avanços e recuos do governo na apresentação de propostas; a dificuldade de honrar compromissos políticos firmados com os partidos; a falta de clareza sobre as prioridades do Executivo e os constantes descuidos e ofensas verbais do presidente e dos seus ministros ao se dirigirem aos governantes e à imprensa colaboram para a geração ininterrupta de crises que retardam o andamento das reformas. O exemplo da reforma administrativa é cristalino. O projeto conta com o apoio de 88% da população e com o respaldo político dos principais partidos, líderes do Congresso e dos governadores. Mesmo assim, o governo reluta em costurar uma proposta com o Parlamento e aprova-la.
Corporativismo
Terceiro, o presidente não esconde o seu favoritismo pelo corporativismo. Ele se absteve de defender a reforma previdenciária porque não queria se indispor com os funcionários públicos. Em seguida, se mobilizou para excluir os militares da reforma e tratá-los como categoria especial de cidadãos. E, agora, hesita em apoiar a reforma administrativa porque fere a sua história de mais de duas décadas de atuação parlamentar, que sempre votou a favor de privilégios dos funcionários públicos.
Esses três sinais não esvaeceram com o exercício do cargo presidencial. Ao contrário, Bolsonaro dá sinais de estar cada vez mais isolado no palácio presidencial, cercado de familiares e militares, longe da arena política. Sua atenção concentra-se no cultivo direto da figura do “mito” junto aos seus eleitores e apoiadores, alimentando a narrativa da teoria da conspiração de que ele é um homem bem-intencionado que deseja o bem do País e que é impedido de melhorar a vida dos brasileiros porque sua vontade é cerceada pelo Congresso.
A retomada do crescimento econômico depende de três ingredientes ausentes do país: previsibilidade política, segurança jurídica, e confiança nas leis, normas e instituições. Sem esses elementos, vamos continuar a produzir taxas de crescimento medíocre. O populismo de Bolsonaro continua a ser maior entrave ao crescimento econômico.