A erupção do vulcão Bolsonaro ocorre sempre que seu clã é ameaçado por denúncias. Essa semana, os impropérios destabilizaram a busca pela vacina contra o coronavírus e serviram para afugentar investidores privados e fundos estrangeiros.
O vulcão Bolsonaro derrama lavas de ignorância e truculência com uma regularidade de relógio suíço. A erupção ocorre sempre que a família Bolsonaro é ameaçada por denúncias: as “rachadinhas” que envolvem o senador Flavio Bolsonaro, o recebimento de dinheiro de origem duvidosa da primeira-dama e a cumplicidade do clã com o assessor suspeito de ser gerente da “rachadinha” no antigo gabinete de Flavio. As erupções do vulcão servem para desviar a atenção da imprensa da sua família e dar destaque aos seus impropérios.
Erupção recente
O enredo se repetiu nessa semana. O Ministério Público do Rio de Janeiro pediu a cassação do mandato do senador Flavio Bolsonaro por causa do escândalo das “rachadinhas”. Para desviar atenção da imprensa sobre sua família, Bolsonaro atacou tanto a Coronavac, vacina desenvolvida por um laboratório chinês e pelo Instituto Butantan, quanto as diretrizes da política ambiental do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden. A tática deu certo: o noticiário tratou da fala destemperada do presidente e esqueceu o filho senador.
Sequelas para o Brasil
O problema é que o vulcão Bolsonaro deixa graves sequelas para o Brasil. Ao atacar o desenvolvimento da vacina, o presidente da República alimenta a desconfiança de todos em relação ao único meio de se evitar a morte de milhares de pessoas que podem contrair coronavirus. Já o disparate contra as diretrizes ambientais do futuro presidente norte-americano retrata a absoluta falta de sintonia do governo brasileiro com o resto do mundo.
A desastrosa atitude do governo brasileiro em relação ao meio ambiente contribuiu para a retaliação dos governos europeus e dos investidores estrangeiros. Os primeiros suspenderam a assinatura do tratado comercial entre Comunidade Europeia e Mercosul, que poderia abrir as portas de um dos maiores mercados do mundo às exportações brasileiras. Já os investidores estrangeiros anunciaram que não investirão no País enquanto não houver medidas concretas que sinalizem o compromisso do Brasil com o combate ao desmatamento ilegal. A reação estapafúrdia de Bolsonaro às diretrizes ambientais de Joe Biden apenas aguçam a suspeita de que não é seguro investir no Brasil.
Ao afugentar investidores privados e fundos de investimento estrangeiros, o Brasil retarda a retomada do crescimento econômico e a geração de novos empregos. Mas, na lógica de Bolsonaro, vale à pena causar todo esse estrago ao País para tirar o filho, por alguns dias, das manchetes dos jornais.