O problema mais grave não são os devaneios autoritários do presidente, mas a ausência de espírito público dos governantes em freá-los. Como dizia Churchill, na política a coragem é a principal virtude
Artigo de Luiz Felipe d’Ávila, publisher do Virtù News
No Brasil, a omissão dos governantes tornou-se a principal fonte de degeneração das instituições democráticas. A tática conhecida dos populistas é repetir uma mentira várias vezes até que ela se torne verdade. A reação tímida dos poderes Legislativo e Judiciário aos ataques sistêmicos do presidente à lisura da urna eletrônica faz as pessoas pensarem que deve haver algum fundo de verdade nas acusações infundadas do presidente.
Apesar de não haver fatos e evidências de fraudes, uma pesquisa realizada pelo Poder 360 revela que 46% dos eleitores são favoráveis ao voto impresso. A mentira vai se tornando realidade e ameaça criar um retrocesso no sistema eleitoral que não só aumentará a chance de fraude como custará aos cofres públicos mais de R$ 2 bilhões para reintroduzir o voto impresso.
Um presidente que ameaça não haver eleições em 2022 se o Legislativo e o Judiciário não se curvarem ao seu desejo; e o ministro militar que dá ultimato ao Congresso para mudar o sistema eleitoral são ambos atos cabais de crime de responsabilidade do Presidente da República. Seus atos atentam contra a Constituição, a administração pública e o cumprimento das leis do país. O problema mais grave não são os devaneios autoritários do presidente, mas a incompetência, a omissão e a ausência de espírito público dos governantes em freá-los. Como dizia o primeiro ministro britânico Winston Churchill, na política a coragem é a principal virtude, pois todas as demais dependem dela.
O silêncio dos nossos governantes aos ataques às nossas instituições democráticas demonstra a atroz falta de coragem dos parlamentares e dos juízes para fazer cumprir a Constituição e evitar o apagar das luzes da nossa democracia. A democracia não morre necessariamente pelos atos graduais de autoritarismo do presidente, mas pela covardia e omissão dos líderes públicos que não demonstram coragem para defender a democracia no Parlamento, nas Cortes e nas ruas.
Escute na voz de Luiz Felipe D’Avila: