O PIB cresceu, mas há desafios políticos eminentes: o fim do mandato de Rodrigo Maia, as eleições municipais e as volatilidades da economia internacional e da política nacional.
Não há nada melhor do que terminar o ano com a ótima notícia: o PIB subiu além das previsões do mercado. O tripé do otimismo é formado pela lenta retomada do emprego, a queda da taxa de juros e o aumento da oferta do crédito. Esses três elementos impulsionaram o consumo das famílias, que cresceu 0,8% em relação ao segundo trimestre. Mas trata-se de um equívoco deixar-se contaminar pela a boa notícia do momento e rever o crescimento do PIB para 2020. Há muito risco no radar político que pode afetar o desempenho da economia.
Fim do mandato do presidente da Câmara
Primeiro risco: encerra-se o mandato do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em fevereiro de 2021. Não há um sucessor à altura de Rodrigo para ocupar o cargo. Seu talento político ímpar para conduzir as conversas no Parlamento, dirimir disputas partidárias e forjar pactos políticos foram fundamentais para assegurar as vitórias no plenário na hora do voto. Espera-se uma queda de qualidade na presidência na Câmara num momento crucial para a aprovação de reformas. É o caso da PEC Emergencial e da a reforma administrativa que precisam ser votadas no início de 2020. Haverá também mudança no comando do Senado. Mas há senadores habilidosos para substituir David Alcolumbre.
Eleições dominam a agenda política
Segundo risco: 2020 é um ano curto no Legislativo; o Congresso só vai votar as reformas até junho. Como teremos eleições municipais em outubro, não há clima e condições políticas para se votar reformas no segundo semestre. As eleições municipais dominarão a agenda política no segundo semestre.
Volatilidades nacional e internacional
Terceiro risco: volatilidades da economia internacional e da política nacional. Há variáveis que não controlamos – como é o caso da volatilidade do preço das commodities internacionais que exportamos e o estilo intempestivo do presidente Donald Trump que tende a se agravar num ano eleitoral nos Estados Unidos, aumentando a instabilidade no cenário internacional. Mas há também as variáveis políticas nacionais. O arsenal da verborragia presidencial e ministerial aumenta a tensão política, retarda as votações das reformas no Congresso e, no caso específico da atitude do governo na área ambiental, pode prejudicar imensamente as exportações agrícolas brasileiras.
O Brasil está trilhando o bom caminho e há reais chances de retomarmos o crescimento econômico e o investimento no próximo ano. Mas ignorar os riscos políticos é o caminho para fomentar falsas expectativas e desilusões futuras. Portanto, é bom temperarmos o otimismo com realismo.